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abril/maio/junho 2012
quem foi
brasileira
precursora
por Marina Panham
Ilustração: ©
Felipe Santiago
Carlota Pereira de Queiroz
foi uma figura de destaque
na hematologia internacional
e na emancipação política
feminina no País
A
As contribuições da paulista Carlota Pereira de
Queiroz, nascida em 1892 na cidade de São Paulo
para a sociedade brasileira ultrapassaram as pare-
des da Câmara dos Deputados e se estenderam à
saúde, à educação e à assistência social. Além de
ter sido a primeira mulher eleita deputada federal
na história do Brasil, Carlota foi também precurso-
ra da figura feminina na hematologia.
Considerada “representante da mulher médi-
ca brasileira” no livro
Women´s Physicians of the
World
, publicado por Leone McGregor Hellsted
em 1978, Carlota tornou-se a primeira médica ho-
norária da Academia Nacional de Medicina, em
1942. O livro ‘História da Hematologia Brasileira’,
de Therezinha Ferreira Lorenzi, relata que o “entu-
siasmo e atividade continuada nas áreas médicas,
da educação, da assistência social e o contínuo in-
centivo à mulher médica, valeram-lhe a indicação,
por unanimidade” à Academia. Além de receber
indicação para Academia Nacional de Medicina de
Buenos Aires e condecoração pelo governo fran-
cês como membro da Legião de Honra.
Ingressou na Faculdade de Medicina e Cirurgia
de São Paulo em 1921, mas logo pediu transferên-
cia e concluiu o curso na Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), em 1926. Foi agraciada
com o Prêmio Miguel Couto ao defender a tese
‘Estudos sobre o câncer: indagações clínicas e ex-
perimentais’, que abordava as modificações das
células eritrocitárias e leucocitárias, assim como as
características da hemólise presente em alguns ti-
pos de câncer e a variação da taxa de hemoglobina.
No mesmo ano, assumiu a direção do Laboratório
de Clínica Pediátrica da Santa Casa de Misericór-
dia de São Paulo.
Comissionada pelo Governo do Estado de São
Paulo, viajou para a Suíça em 1928 para estudar
Dietética Infantil e esteve na França e na Alema-
nha para participar de outros cursos da área. Após
longo período de estágio no país bávaro, Carlota
voltou para o Brasil e trouxe na ‘bagagem’ o ‘he-
mograma de Schilling’.
Com a palavra
A década de 1930 registrou um período de as-
censão da mulher na política nacional. Em 1932, o
voto feminino foi permitido por Getúlio Vargas e,
consequentemente, a participação das mulheres nas
eleições, para serem votadas e eleitas. Nessa época,
Carlota já estava envolvida com movimentos políti-
cos, o que facilitou o lançamento de sua candidatura.
Junto à Cruz Vermelha Paulista e à frente de
700 mulheres, organizou assistência aos feridos
da Revolução Constitucionalista de 1932. No ano
seguinte foi eleita a primeira mulher deputada fe-
deral da história do País pela “Chapa Única por
São Paulo Unido!” para ocupar uma das 254 ca-
deiras da Câmara dos Deputados. Na Assembleia
Nacional Constituinte, integrou a Comissão de
Saúde e Educação e elaborou o primeiro projeto
sobre a criação de serviços sociais no País, emenda
que viabilizou a concepção da Casa do Pequeno
Jornaleiro – internato para meninos que vendiam