O discurso de ser uma empresa a favor das minorias já é decorado e falado por qualquer corporação minimamente antenada no que acontece pelo mundo. Entretanto, fazer com que a sua marca realmente faça o que fala é um grande desafio, inclusive na questão do machismo no trabalho.
Com a quantidade de conhecimento que temos sobre o assunto nos dias de hoje, é obrigação de toda a corporação, seja pequena ou grande, se posicionar contra esse tipo de preconceito e lutar, inclusive, contra a masculinidade tóxica. Uma vez que você pode até não ter atitudes machistas, mas a chance do colega que está sentado ao seu lado inferiorizar mulheres é imensa.
Apesar de nós mulheres termos conquistado importantes avanços para nós durante os anos, uma típica pergunta segue nas entrevistas de emprego: como você cuidará de seu filho se trabalhar?
E essa é só a ponta do iceberg do machismo no trabalho, uma vez que segundo a Central Mulheres, base de dados fruto de uma parceria entre a Inesplorato e o Instituto Avon, no Brasil as informações são alarmantes:
– Homens ganham em média 27,1% a mais do que as mulheres;
– Enquanto o salário dos homens, entre 2000 e 2010, subiu 2%, o das mulheres diminuiu 3,2%;
– Só 23% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres;
– Apenas 14% dos CEOs são mulheres.
Apesar de essas informações darem um nó na garganta, quando a gente entra no âmbito de assédio, moral ou sexual, fica tudo muito mais nebuloso.
Segundo o Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC), mais da metade dos profissionais brasileiros pratica ou tolera assédio em seu ambiente de trabalho.
E se você, presidente de empresa, achar que nunca aconteceu nenhum problema debaixo de suas asas pode significar inocência ou omissão.
Há diferentes tipos de machismo no trabalho, e abaixo você confere quais são os mais comuns:
1 – Mansplaining: é quando o seu colega de trabalho te explica algo óbvio e pontos que você já domina. Muitas vezes, vêm como pequenas dicas e toques para te auxiliar, mas na verdade, são formas de inferiorizá-la e colocar-se acima. E não é raro que diga, inclusive, informações erradas sobre a sua área, mesmo sem domínio.
2 – Manterrupting: é a interrupção da fala de mulheres em reuniões, apresentações ou trocas de ideias. Cortando a frase da mulher, o homem fala em cima, e não a deixa terminar a linha de raciocínio.
3 – Bropriating: quando um homem, incapaz de ser criativo sozinho, se apropria da ideia de uma mulher e recebe todos os créditos por ela.
4 – Gaslighting: quando o homem distorce, omite ou inventa fatos para fazer com que a mulher duvide de si mesma e tenha a credibilidade abalada no local de trabalho. Pode ocorrer por meio de típicas frases como: “Só pode estar de TPM”; “Você vê problema em tudo”; “Não tem senso de humor? Era só uma brincadeira”; “Para de ser louca e ver coisa onde não tem”.
Combater o machismo no trabalho, tão institucionalizado e estrutural em nosso país, não é das missões mais fáceis, mas também não é impossível.
O primeiro passo é buscar entender o atual panorama da sua empresa. Assim, a dica para isso, é realizar uma pesquisa com as mulheres de todos os departamentos, para entender se alguma vez elas se sentiram inferiorizadas por serem mulheres e como foi.
Aqui vale, inclusive, usar formulário do Google e possibilitar que elas omitam os seus nomes.
Compreendido o panorama, é hora de combatê-lo. Portanto, é dever da sua empresa realizar encontros mensais em favor das minorias. Para educar todos os seus colaboradores sobre atitudes preconceituosas, como identificá-las e como se posicionar diante delas.
E atenção, aqui não falamos apenas de machismo, esses encontros também podem ser usados para combater a lgbtfobia.
A direção da empresa se posicionar de portas abertas para qualquer mulher que se sinta ofendida ou inferiorizada é fundamental. Sabemos que muitas não acusam os homens que lhe feriram de alguma forma, psicologicamente ou fisicamente, portanto, manter essa ligação aberta é essencial.
Aqui um dos pontos principais é o tato, saber conversar com essa mulher de forma compreensiva e sem julgamentos. Não é preciso nem falar sobre a importância de ser uma mulher a prestar essa assistência, não é mesmo?!
Contratar mulheres, e também apostar em outros grupos de minorias, não faz com que uma empresa ganhe o selo de apoiadora da diversidade. Isso, na verdade, não passa do mínimo.
Agora, combater todo o tipo de preconceito, advindo de toda e qualquer pessoa dentro da empresa, isso sim é lutar por uma cultura melhor e mais igualitária.
Assim sendo, se coloque como uma empresa que ainda tem muitos passos a dar e que está aprendendo, e mostre aos seus colaboradores a vontade de tornar o ambiente muito melhor para eles.