ABHH em Revista #07/2023

#07 / 2023 ABHH lança plataforma para centros coordenadores cadastrarem seus estudos clínicos. Meta é chegar a 100 estudos inscritos até o HEMO 2023 FOCO EM ESTUDOS CLÍNICOS Entrevista com o português António Almeida, presidente da Associação Europeia de Hematologia (EHA) página 06 Conheça os membros e as metas e objetivos do Programa de Equidade ABHH página 14 Aos 72 anos, médica Lígia Niéro- Melo faz um balanço de seus quase 50 anos de medicina página 28 ABRE ASPAS EM PERSPECTIVA PERFIL

índice carta ao leitor p.06 | diretoria p.07 | nas redes p.32 | abhh em ação p.34 abre aspas p.06 em perspectiva p.14 debate ABHH p.10 Entrevista com o Dr. António Almeida, presidente da Associação Europeia de Hematologia (EHA) ABHH lança plataforma para centro cadastrarem seus estudos clínicos Conheça os membros e as metas e objetivos do Programa de Equidade ABHH perfil p.28 especial p.24 cobertura p.20 Natural de São Paulo, Dra. Lígia Niéro-Melo é autora da primeira publicação no Brasil sobre Síndromes Mielodisplásicas ABHH debate PEC que propõe a comercialização de plasma humano pelas iniciativas privadas e pública Confira a repercussão positiva da jornada científica em Natal e do BLC 2023 07 / 2023 ABHH em Revista 3

carta ao leitor 4 Olá, pessoal. Que alegria oferecermos a primeira edição da ABHH em Revista de 2023. E maior alegria ainda é trazer na capa um assunto de tamanha relevância: uma iniciativa que a ABHH está lidando com tamanho carinho e propositividade, que foi o lançamento de uma plataforma própria de Pesquisa Clínica. Essa novidade, no ar desde o final de 2022 após o HEMO, foi idealizada a partir de uma dificuldade observada por nós, hematologistas e hemoterapeutas, em saber quais pesquisas estavam abertas na especialidade. Os centros de pesquisa clínica, por sua vez, também enfrentam desafios para recrutar pacientes no trato de disponibilização de opções de tratamento e diagnósticos porque a informação simplesmente não chegava. Nossa meta é chegar a 100 estudos inscritos em nossa plataforma até o HEMO 2023. Tamanha importância ganhou o debate quanto às pesquisas que, dentro dos objetivos do Programa de Equidade ABHH, incluímos uma nova meta: a de propagar a prática de estratégias de criar diversidade, equidade e proporcionar acesso a estudos clínicos. Um estudo da ASH mostrou que as disparidades nos tratamentos de doenças hematológicas podem estar relacionados com a subrepresentação de pacientes e outras minorias raciais dentro de ensaios clínicos. Nesta edição, trazemos ainda uma entrevista com o hematologista português e presidente da European Hematology Association (EHA), António Almeida. Durante o Congresso da ASH de 2022, nos reunimos com António para estreitar a parceria entre ABHH e EHA. Outro destaque da revista é o perfil da Profa. Lígia Niéro-Melo, da Unesp. Autora da primeira publicação no Brasil sobre Síndromes Mielodisplásicas, ela faz um balanço de seus quase 50 anos de medicina. Confira também nesta edição artigos sobre CAR-T Cell e o ABHH+PBM, novo projeto da ABHH voltado a conscientizar, educar, capacitar e desenvolver novos modelos de cuidados dos pacientes apoiados nos conceitos mais recentes de gerenciamento e manejo do sangue, atendendo a um chamado da Organização Mundial de Saúde (OMS). Esperamos que você aprecie nossa primeira edição de 2023, preparada com muito zelo e cuidado. Se quiser postar uma foto com sua ABHH em Revista em mãos nas redes sociais, use a hashtag #ABHHemRevista. Ótima leitura! Pesquisa clínica e equidade Dr. Renato Tavares e Dr. Jorge Vaz Neto Diretores de Comunicação ISSN 2179-4855 ABHH em Revista é uma publicação semestral da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) distribuída gratuitamente para médicos. O conteúdo da publicação é de inteira responsabilidade de seus autores e não representa necessariamente a opinião da ABHH. JORNALISTA RESPONSÁVEL Roberto Souza (Mtb 11.408) EDITOR Madson de Moraes REPORTAGEM Danilo Gonçalves Fernando Inocente Leila Vieira Luana Rodriguez REVISÃO Celina Karam PROJETO EDITORIAL Madson de Moraes PROJETO GRÁFICO Leonardo Fial DESIGNERS Lucas Bellini Marcelo Cielo Rafael Bastos FOTO DE CAPA Getty Images CONTATO COMERCIAL Caroline Frigene RS PRESS EDITORA Rua Cayowaá, 228 – Perdizes São Paulo – SP – 05018-000 (11) 3875-6296 rspress@rspress.com.br www.rspress.com.br ABHH Rua Dr. Diogo de Faria, 775, conj. 133 Vila Clementino São Paulo - SP (11) 2369-7767 / (11) 2338-6764 abhh@abhh.org.br www.abhh.org.br @abhhoficial ABHH em Revista 07 / 2023

DIRETORIA ABHH 2022-2023 Conheça os especialistas que integram a direção da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular Dante Mário Langhi Jr. Diretor Administrativo Rodrigo Calado Vice-Diretor Científico Alfredo Mendrone Júnior Diretor Financeiro Angelo Maiolino Vice-Presidente Dimas Tadeu Covas Diretor Científico Eduardo Magalhães Rego Diretor de Relações Institucionais Carlos Sérgio Chiattone Vice-Diretor de Relações Institucionais José Francisco Comenalli Marques Júnior Presidente Glaciano Nogueira Ribeiro Diretor de Defesa Profissional Celso Arrais Vice-Diretor de Defesa Profissional Carmino Antônio de Souza Coordenador de Comitês Roberto Passetto Falcão Diretor Científico Emérito Dr. José Orlando Bordin Diretor de Orientação e Aconselhamento Renato Sampaio Tavares Diretor de Comunicação Leny Nascimento da Motta Passos Vice-Diretora Financeiro Jorge Vaz Pinto Neto Vice-Diretor de Comunicação Silvia Maria Meira Magalhães Vice-Diretora Administrativa 07 / 2023 ABHH em Revista 5

Confira a entrevista com o hematologista português António Almeida, eleito para presidir a Associação Europeia de Hematologia (EHA, da sigla em inglês) pelos próximos dois anos Por Madson de Moraes “Espero envolver cada vez mais outras sociedades de hematologia” N o fim de 2022, a ABHH se reuniu com a diretoria da Associação Europeia de Hematologia (EHA, na sigla em inglês) para estreitar laços entre as sociedades e desenhar projetos conjuntamente. O encontro contou com a presença do hematologista português António Almeida, presidente eleito para a EHA. Diretor do Serviço de Hematologia do Hospital da Luz Lisboa, professor e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Católica (FM-UCP) e membro do board da EHA desde 2018, onde presidiu, entre outras, a comissão curricular e educacional, ele classificou a reunião entre ABHH e EHA como muito positiva. “Trouxe à luz muitos pontos de colaboração entre as duas associações”, destacou o hematologista. Este ano, a ABHH terá pela primeira vez um estande na área de exposições do congresso anual da EHA. António respondeu às nossas perguntas por e-mail. Confira! Quais serão os frutos dessa parceria entre ABHH e EHA para 2023? Na reunião, prevemos a organização de reuniões conjuntas não só durante o HEMO deste ano, mas também na reunião da EHA. O modelo de partilha de custos, tanto para palestrantes como participantes quanto para partilha de experiências, pode trazer grande riqueza a ambas as associações. Divulgação ABHH em Revista 07 / 2023 6 abre aspas

Quais seus planos à frente da EHA? O grande objetivo da associação é promover a hematologia no nível de formação e no de investigação e reconhecimento da especialidade. Nesse contexto, espero envolver cada vez mais outras sociedades de hematologia, contribuir para o desenvolvimento de investigação entre diferentes instituições e levar ao reconhecimento da especialidade. O que o levou a se interessar pela hematologia, professor? O aspecto mais entusiasmante da especialidade é o fato de integrar a clínica com o diagnóstico laboratorial. Permite-nos estar envolvidos em todos os aspectos do paciente: diagnóstico, tratamento e seguimento. Outro aspecto muito entusiasmante é a velocidade com que as descobertas científicas chegam à aplicação clínica. A hematologia é uma especialidade muito progressista e extremamente atual. Mais de 20 anos depois de atuar nessa área, por que ela ainda o entusiasma? Confesso que continuo cada vez mais entusiasmado. As descobertas contínuas, a transferência de conhecimentos e a medicina de precisão que praticamos em hematologia são fonte contínua de descoberta. Quais foram suas referências na medicina e na especialidade? Meu primeiro contato foi no Hospital St. George, em Londres, onde fui muito marcado pela Dra. Judith Marsh (hematologista consultora do King's College Hospital). Mais tarde, o professor John Goldman (oncohematologista britânico falecido em 2013) e Sally Davies (hematologista britânica e Chief Medical Officer do país de 2011 a 2019) impulsionaram meu gosto pela investigação. Em Portugal, o professor António Parreira me mostrou como um grande líder se comporta no mundo clínico e científico. O senhor disse numa entrevista que medicina é uma carreira muito vocacional. Porque a vocação é importante? Para ser médico, é preciso ter muita dedicação tanto aos pacientes como à medicina em si, ao seu estudo e atualização e ao ensino e investigação permanentes que exige. Numa profissão tão exigente, é preciso estar permanentemente apaixonado. Como todas as relações, passamos por crises, mas sem esta paixão, é difícil termos satisfação pessoal e profissional. Aliás, quais outros cargos o senhor ocupou antes de ser eleito presidente? Antes de ser eleito presidente da associação, fui presidente da comissão de educação, da comissão curricular e da comissão de patrocínios.Todas essas experiências foram muito valiosas em todos os níveis da minha carreira. O aspecto mais entusiasmante da especialidade é o fato de integrar a clínica com o diagnóstico laboratorial. Permitenos estar envolvidos em todos os aspetos do paciente: diagnóstico tratamento e seguimento RAIO-X DR. ANTÓNIO MEDINA ALMEIDA ESPECIALIDADE Hematologia ATUAÇÃO Diretor do Serviço de Hematologia do Hospital da Luz Lisboa, professor e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Católica (FM-UCP) CARGO Presidente da Associação Europeia de Hematologia (EHA) 07 / 2023 ABHH em Revista 7

Qual o impacto que a pesquisa teve em sua carreira e prática clínica? A investigação nos abre a todo o mundo desconhecido. Mostra bem como temos que aplicar o método científico e desperta a nossa curiosidade, sistematizando as perguntas que devemos fazer. Acho muito importante para os clínicos passar por essa experiência, não só como seu desenvolvimento profissional como para contribuírem com o avanço das descobertas científicas Você tem mais de 150 publicações e escreveu vários capítulos de livros. Qual mais o orgulha? Paradoxalmente, não são aqueles que têm maior impacto, mas os artigos que mais me orgulho resultaram de trabalhos colaborativos. Em Portugal, onde a tradição de colaboração ainda não é muito forte, é que necessitarão de muito trabalho organizativo para colher resultados Em quais projetos de pesquisa atualmente você está envolvido? No momento sou diretor de uma faculdade de medicina, o que deixa pouco tempo para investigação. No entanto, continuo a ser investigador principal de ensaios clínicos, sobretudo, na área da mielodisplasia e dou apoio a um investigador cientista que investiga mecanismos epigenéticos na fisiopatologia de doenças mieloides. O senhor já esteve presente em edições anteriores do HEMO. Qual a memória que guardou do congresso da ABHH? Todas as edições em que participei foram pautadas por uma qualidade impressionante. Tanto no nível das apresentações educacionais e dos trabalhos apresentados quanto quanto à investigação desenvolvida. O congresso revela uma Sociedade madura e ativa, e é um prazer participar e colaborar para isso. Qual conselho você pode dar a jovens hematologistas em início de carreira? Acho que o melhor conselho que posso dar é que não deixem passar oportunidades, mesmo que não pareçam aquelas que sonharam. Muito daquilo que aconteceu na minha carreira surgiu de eu ter aceitado desafios que não estavam nos meus planos inicialmente e dos quais eu tinha alguma desconfiança, mas que depois resultaram em grandes oportunidades para mim Comunicação/ABHH Reunião entre ABHH e EHA realizada durante o ASH 2022 Ações da EHA no HEMO 2023 A Associação Europeia de Hematologia (EHA) terá algumas ações durante o HEMO 2023, que será de 25 a 28 de outubro no Transamerica Expo Center, em São Paulo. Uma será o Highlights of Past EHA (HOPE), que acontecerá no dia 26 de outubro (quinta-feira). Outra ação acontecerá durante o Simpósio de Residência Médica com a apresentação de um tema do Young EHA (projeto da entidade focado em inspirar jovens hematologistas), além da tradicional sessão conjunta ABHH- -EHA dentro do programa da Oncohematologia do HEMO 2023. ABHH em Revista 07 / 2023 8 abre aspas

25 a 28 de Outubro 2023 Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular Inscrições Abertas FCM da Santa Casa de São Paulo e Hospital Samaritano – SP Presidente Carlos Chiattone,MD PhD www.hemo.org.br Local: Transamerica Expo Center São Paulo – SP – Brazil O maior congresso da área do hemisfério Sul, presencial 4 Dias de evento (Quarta a Sábado) Conteúdo de extrema relevância Presença dos Principais Experts da Área Networking (troca de experiências e futuras parcerias) Trabalhos Científicos - Submissão aberta (Painéis e apresentações orais) Feira de Exposição

FOCO EM PESQUISA CLÍNICA ABHH lança plataforma para centros coordenadores cadastrarem seus estudos clínicos. Meta é chegar a 100 estudos inscritos até o HEMO 2023 e, além disso, o tema equidade em pesquisa clínica será abordado durante o congresso Por Luana Rodriguez ABHH em Revista 07 / 2023 10 Debate ABHH

D ivulgar os estudos clínicos realizados na área de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular é um dos objetivos da ABHH com o lançamento recente da Plataforma “Pesquisa Clínica”. O portal publicará pesquisas clínicas, em diferentes fases de testes, após curadoria do Comitê de Pesquisa Clínica, coordenado pela Dra. Danielle Leão. Diretor de Comunicação da ABHH, o Dr. Renato Tavares explica que a ideia de criar a plataforma surgiu em 2022. “Observamos uma dificuldade muito grande de saber quais pesquisas estavam abertas na especialidade. Além disso, havia um desafio de se localizar esse tipo de recurso, essencial para os nossos pacientes. A ideia da plataforma foi amadurecendo durante o ano passado e seu lançamento oficializado após o HEMO 2022, quando finalizamos a formatação da página e começamos a divulgá-la por meio das mídias sociais e científicas”, detalha o diretor. Outra dificuldade observada pelos hematologistas - e que contribuiu para criação da plataforma - foi a necessidade de recrutamento dos pacientes. “Temos diversos centros de pesquisa clínica no Brasil que podem incluir pacientes no trato de disponibilização de opções de tratamento e diagnóstico para as diferentes doenças hematológicas. Muitas vezes, os centros encontram dificuldade de recrutamento porque a informação não chega”, explica o vice-diretor de Comunicação da ABHH, Dr. Jorge Vaz. “O desenvolvimento dessa página tem a intenção de centralizar, de maneira fácil e efetiva, todos os estudos de pesquisa clínica que sejam relacionados à área de Hematologia”, observa. Padronizar a divulgação Além de centralizar e recrutar, a plataforma “Pesquisa Clínica” surgiu também devido à necessidade de divulgação de pesquisas na área. Para o Dr. Eduardo Rego, diretor da ABHH à frente da plataforma, essa divulgação, muitas vezes, é feita por meio dos contatos pessoais dos pesquisadores e, com o aumento da produção na área, foi preciso padronizar tal disseminação. “Sem dúvida, o melhor jeito de se fazer isso era pela ABHH, que representa toda Hematologia e reúne várias pessoas que têm experiência em pesquisa clínica. A página foi uma demanda, simultânea, de diferentes investigadores, fruto do amadurecimento do próprio Comitê de Pesquisa Clínica, que viu a oportunidade de se envolver mais diretamente no apoio aos pesquisadores”, explica o Dr. Eduardo. Essa estratégia dialoga com um dos principais objetivos da associação: a promoção da especialidade. “Uma das missões da ABHH é divulgar informações de interesse dos pacientes e dos profissionais de saúde associados à Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Por meio dessa plataforma recém-lançada, garantimos que os pacientes e os profissionais da Saúde tenham acesso às mais diversas informações”, complementa o Dr. Jorge. Olhar atento ao paciente Em linhas gerais, pesquisas clínicas são estudos conduzidos em seres humanos que avaliam novas opções de tratamento e passam por fases de testes com o objetivo de descobrir ou confirmar seus efeitos clínicos e/ou farmacológicos. A partir deles, novos tratamentos podem surgir e, nesse sentido, além de centralizar informações novas em um único local e universalizar o acesso a novos tipos de tratamento para pessoas que antes não teriam essa oportunidade, a plataforma reforça o compromisso da ABHH com os pacientes. “É por meio da pesquisa clínica que temos um avanço da fronteira de conhecimento em nossa área. Ela é a última etapa para o desenvolvimento, tanto de uma nova droga quanto de uma nova estratégia terapêutica. A plataforma criada pela ABHH possibilita o acesso a drogas experimentais que muitos pacientes não teriam a seu alcance”, pontua o Dr. Eduardo. Por sua vez, o Dr. Renato reforça ainda que a nova plataforma será fundamental para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). “A maioria dos pacientes é do SUS e não tem acesso às novas terapias. Essa iniciativa garante a eles uma oportunidade de tratamento de qualidade”, explica. “Qualquer pessoa poderá olhar na plataforma se há pesquisas clínicas no Brasil abertas e onde elas estão. E 07 / 2023 ABHH em Revista 11 Em linhas gerais, pesquisas clínicas são estudos conduzidos em seres humanos que avaliam novas opções de tratamento e passam por fases de testes com o objetivo de descobrir ou confirmar seus efeitos clínicos e/ou farmacológicos

os médicos do SUS também poderão encaminhá- -los com maior facilidade. Ou seja: o impacto é muito significativo”, observa o diretor da ABHH. Além disso, propagar a prática de estratégias para criar diversidade, equidade, inclusão e acesso em estudos clínicos é uma das metas do Programa de Equidade ABHH (conheça todas as metas na página 17). Repercussão positiva A criação da plataforma “Pesquisa Clínica” vem, por fim, em um momento em que esses estudos crescem no país. De acordo com o Instituto Brasil de Pesquisa Clínica, o Brasil é o país que mais concentra pesquisas clínicas na América Latina. “Nos últimos quatro anos, temos aprovado muito mais pesquisas e percebemos um aumento significativo de pesquisas abertas no país. Elas também estão sendo aprovadas com mais agilidade. É importante aproveitar esse momento de maneira bastante ativa para os nossos pacientes”, pondera o Dr. Renato. A criação da plataforma teve uma repercussão positiva entre os associados da ABHH. Segundo o Dr. Renato, centros coordenadores já tinham procurado a ABHH para o cadastramento de estudos antes do lançamento da página. Atualmente, cerca de 10 estudos estão cadastrados, que continua recrutando novas pesquisas. “A ideia foi muito bem aceita. O número aumenta rapidamente. É uma plataforma de fácil acesso para os hematologistas que estão em atendimento nas diferentes regiões”, afirma o Dr. Eduardo Rego. O objetivo é que a plataforma tenha 100 pesquisas cadastradas até o HEMO 2023. Para atingir esse objetivo, a ABHH pretende capitalizar a plataforma por meio da divulgação de informação e da busca ativa das pesquisas clínicas junto aos Centros Coordenadores, que serão os responsáveis por cadastrar a pesquisa na plataforma e informar quais centros participantes estão recrutando pacientes e em que locais. “O Brasil é um país que tem grande potencial para não apenas participar de estudos clínicos internacionais, como também para desenvolver os seus próprios estudos. Então uma das ambições da ABHH é que todos possam se beneficiar dessa ferramenta e que ela cresça e se desenvolva ao longo do ano de 2023”, finaliza o Dr. Jorge Vaz. Passo a passo para cadastrar seu estudo clínico 1. 2. 3. 4. 5. Acesse a plataforma, clique na área restrita, selecione o ícone no canto superior direito. Insira login e senha. Caso seja o primeiro acesso, você deverá criar um novo cadastro selecionando a opção “Faça seu Cadastro”. Clique em “Enviar Novo Estudo”, preencha o formulário com as informações sobre o estudo e aceite o “Termo de Anuência”. Seu estudo foi enviado e serão confirmados alguns dados para verificar se está tudo certo e para que ele seja aprovado. Caso haja problema, entraremos em contato. O estudo precisa estar aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e, em caso de estudos patrocinados, é importante verificar com os patrocinadores se estão de acordo com a divulgação. Acesse o site da plataforma e saiba mais! ABHH em Revista 07 / 2023 12 Debate ABHH

07 / 2023 ABHH em Revista 13 Incorporação de Novas Tecnologias e Acesso à Medicamentos; Participação no Programa Um Só Sangue de incentivo à doação de sangue. Representação profissional; Desconto na taxa de inscrição dos eventos promovidos e apoiados pela ABHH; Acesso a diversos conteúdos educacionais disponíveis na plataforma HEMO.educa; Gratuidade na HEMOTECA, repositório de aulas dos eventos da ABHH; Webinars, podcasts e videocasts > HEMO PLAY Podcast Recebimento de publicações exclusivas: HTCT e ABHH em Revista; Incentivo à carreira através dos programas Sangue Jovem e Programa de Apoio em Residência Médica; ASSOCIADO DA ABHH Tem prioridade e participa de grandes Projetos que elevam a Ciência, a Educação e a Equidade em nosso país: @abhhoficial www abhh org br

ABHH em Revista 07 / 2023 14 Em perspectiva EQUIDADE Por Danilo Gonçalves na prática

07 / 2023 ABHH em Revista 15 Membros do Comitê de Equidade ressaltam importância do Programa, que atuará por ampliação do acesso a diagnósticos e tratamentos dos pacientes em todo o Brasil C riado no fim de 2022 para promover uma distribuição mais igualitária para os pacientes do acesso a tratamentos e medicamentos, levando em consideração a realidade local, o Programa Equidade ABHH deu o pontapé inicial em suas primeiras iniciativas. Como piloto de ação do Programa, a ABHH visitou em junho do ano passado a Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (HEMOAM), em Manaus (AM), para entender as necessidades e especificidades daquela região. Em dezembro, foi a vez de Recife receber a Diretoria da ABHH, que conversou com gestores locais e visitou o Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Universidade de Pernambuco (UPE), o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM), o Pronto-socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape) e a Fundação HEMOPE. Em março deste ano, a Associação realizou outra visita dentro das ações desenhadas para 2023, em alguns serviços de Hemoterapia de Natal (RN), com a presença de lideranças regionais no intuito de mapear a realidade daquele estado. Realizar visitas em todas as regiões do Brasil a fim de capilarizar a ABHH e estimular essa “geoequidade” é só um dos seis objetivos estipulados pela associação para seu Programa de Equidade. “Para termos um sistema de saúde eficiente e de acesso a todos, temos que conhecer a diversidade das realidades brasileiras que sofrem pela falta de equidade. O Programa tem como essência entender como a diferença regional, de todos os pontos de vista, impacta o acesso das pessoas especialmente no sistema público. Por isso, neste primeiro momento, temos priorizado o mapeamento das necessidades locais e nacionais e, gradativamente, vamos implementar ações propositivas nas realidades que conheceremos mais profundamente”, explica o Dr. Renato Cunha, coordenador nacional do Comitê de Equidade. O comitê é formado por cinco grupos de trabalho, cada um com três representantes por região do país. No total, são 15 representantes regionais com papéis fundamentais à efetividade do Programa. “Entre todas as sociedades de especialidades médicas filiadas à Associação Médica Brasileira, a ABHH é a pioneira a ter um programa exclusivamente dedicado à equidade, com ações práticas em todas as nossas tomadas de decisões e projetos. Isso mostra nosso pioneirismo! Fizemos o lançamento oficial do Programa de Equidade durante o HEMO 2022 e a repercussão entre médicos, profissionais de saúde, associações de pacientes, indústria, mídia e formadores de opinião foi muito positiva”, destaca o presidente da ABHH, Dr. José Francisco Comenalli Marques Jr. O Programa Equidade ABHH foi inspirado nas ações de equidade já implementadas pela American Society of Hematology (ASH). “No HEMO 2022, nos reunimos com membros do Comitê de Diversidade, Igualdade e Inclusão da ASH para uma conversa sobre a diferença de equidade nas realidades brasileira e norte- -americana”, ressalta. Entre todas as sociedades de especialidades médicas filiadas à Associação Médica Brasileira, a ABHH é a pioneira a ter um programa exclusivamente dedicado à equidade, com ações práticas em todas as nossas tomadas de decisões e projetos. Isso mostra nosso pioneirismo Dr. José Francisco Comenalli Marques Jr, presidente da ABHH

Comunicação/ABHH ABHH em Revista 07 / 2023 16 As bases do Programa Como primeira iniciativa para criar a base atual do Programa, a ABHH inseriu a equidade em sua missão institucional. Na sequência, a definição de equidade se tornou importante para nortear o planejamento e a tomada de decisões. Com base no projeto do ASH, mas adaptando para a realidade brasileira, a ABHH definiu o termo equidade como a “garantia de alcance da igualdade se levando em consideração as necessidades específicas de cada um, o que implica que somos iguais com as mesmas oportunidades de acesso, qualidade de acesso, meios de diagnóstico e monitoramento e, o mais importante, oferecer os melhores tratamentos possíveis dentro do que consideramos essencial”. A partir daí, a associação criou um Comitê de Equidade com a participação de integrantes de todas as regiões do Brasil e desenhou metas e objetivos para a aplicabilidade do projeto. Na esteira dessas primeiras ações, a ABHH pediu a 16 de seus Comitês Técnicos-Científicos que elaborassem uma lista de prioridades, cada qual na sua área de atuação, do que consideravam essenciais em cada fase do cuidado ao paciente nos quesitos exames diagnósticos, eventuais novos procedimentos ou medicamentos. A partir daí, se definiu a essencialidade de cada área e este levantamento foi compartilhado com o Comitê de Equidade para que cada grupo regional adeque essas essencialidades nos variados cenários locais que compõem o Brasil. “Com esse mapeamento, a ABHH busca atender a demandas essenciais para apresentar tecnicamente o que é essencial e já está disponível no sistema público. Será um grande mapa de medicamentos e tratamentos essenciais”, diz o Dr. Renato. É com o apoio dos grupos regionais de equidade que a ABHH colocará em prática suas metas e objetivos com o Programa de Equidade. Um dos primeiros pontos será construir ferramentas epidemiológicas com dados já existentes e analisá-los para extrair o maior número possível de informações de interesse da hematologia e da hemoterapia. Em paralelo, será importante ouvir os principais Registro do lançamento do Programa de Equidade durante o HEMO 2022

07 / 2023 ABHH em Revista 17 agentes envolvidos na atenção hematológica (pacientes, colegas de especialidade e os gestores do sistema) com um país com características sociais, geográficas e econômicas tão diversas. Esse olhar regional, que dentro do Programa se chamou de geoequidade, o objetivo foi espalhar a ABHH em todo o Brasil como apoio fundamental nas metas e objetivos que o projeto pioneiro da associação pretende executar. “Temos 15 membros que compõem nosso Comitê de Equidade e cada um tem a missão de mobilizar o olhar de seus colegas (hematologistas e de outras especialidades) para que o programa se concretize. A ABHH também tem disponibilizado sua estrutura para realizar eventos regionais, como foi o caso da Jornada Científica - Boas Práticas no manejo da Leucemia Aguda, realizada em março na cidade de Natal, além de outras iniciativas que podem ser propostas por esses grupos regionais. O fato de termos um olhar local, por região e, consequentemente nos Estados, nos possibilita realizar um mapeamento mais preciso das especificidades de cada local”, afirma Marques Jr. Grupos regionais: apoio fundamental Na escolha dos representantes regionais para compor o Comitê de Equidade, é importante dizer que cada grupo regional conta com pelo menos um membro do Conselho Deliberativo da ABHH – os outros dois integrantes foram convidados. Na Região Norte, o grupo de trabalho do Comitê de Equidade é formado pelos hematologistas Thiago Carneiro (Pará), Maria do Perpétuo Carvalho (Amazonas) e Rafaela Vasques (Macapá). Coordenador do grupo na região, o Dr. Thiago entende que a visão regionalizada é essencial, uma vez que a hematologia e os profissionais da especialidade são heterogêneos com necessidades muito diferentes. “Um princípio básico do programa é que devemos respeitar essas diferenças e criar intervenções que as contemplem. E o trabalho dos representantes regionais será capilarizar as boas ideias e ações que podem ser geradas nos estados dentro do programa. Será uma construção a várias mãos e todos vão contribuir para que isso aconteça”, diz. Na Região Nordeste, o programa é representado pelos hematologistas Edvan Crusoé (Bahia), James Farley (Rio Grande do Norte) e Lorena Costa (Recife). Coordenador desse grupo regional, o Dr. Edvan avalia que essa visão mais territorializada proposta pelo Programa de Equidade ABHH auxiliará no desenvolvimento de políticas públicas locais que sejam benéficas para os pacientes e profissionais de saúde, sem deixar de considerar os determinantes sociais e de saúde das localidades. “O programa permitirá conhecer não só os aspectos da população de pacientes, mas também dos prestadores de assistência na área de hematologia e poderá ajudar nas deficiências”, observa. “Nosso trabalho será 1. Propagar que políticas públicas de saúde sejam desenvolvidas levando em consideração os Determinantes Sociais de Saúde (DSS). 2. Propagar a garantia de diagnósticos precisos e específicos. 3. Disseminar o acesso igualitário a medicamentos essenciais e novas tecnologias entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Saúde Suplementar. 4. Motivar a manutenção dos programas em vigência (coagulopatias, hemofilia e doenças raras) e estimular a implantação de novos programas específicos para pacientes com doenças hematológicas. 5. Disseminar a segurança transfusional, independentemente do sistema de saúde no qual está inserida. 6. Fomentar a parceria com entidades de pacientes, ONGs, órgãos governamentais, sociedades organizadas e instituições de saúde para orientar e conscientizar pacientes sobre suas doenças, seus direitos, cuidados e o acesso aos tratamentos de qualidade no seu local de domicílio (geoequidade). 7. Propagar a prática de estratégias para criar diversidade, equidade, inclusão e acesso em estudos clínicos. CONHEÇA AS METAS DO PROGRAMA DE EQUIDADE ABHH

Comunicação/ABHH ABHH em Revista 07 / 2023 18 identificar, em parceria com os colegas, as necessidades específicas de cada região, permitindo assim uma grande capilaridade, uma vez que existe um estímulo de participação e ao mesmo tempo de pertencimento de um grupo como a ABHH”, assinala o hematologista. Coordenador do grupo na Região Centro- -Oeste, o Dr. Eduardo Flávio Ribeiro (Distrito Federal) ressalta que essa regionalização do Comitê de Equidade permitirá que médicos de diversas regiões conversem entre si e encontrem áreas de interesse comum para soluções personalizadas. “Nossa especialidade é reconhecida por contemplar muitas doenças complexas e de menor prevalência na população. Isso faz com que o sistema possa perceber a necessidade de infraestrutura, logística e tecnologia somente após ser pressionado pelos próprios pacientes. Sendo assim, o comitê também devolve ao sistema um conjunto de informações que o aperfeiçoa e o prepara para a demanda futura. Há muita expectativa nas ações do comitê, e esperamos corresponder, se não a todas, mas a uma parte substancial delas”, assinala. Os outros dois membros do grupo regional da Região são os médicos Nelcivone Melo (Goiás) e Deise Nantes (Mato Grosso do Sul). Na Região Sul, o Dr. Jaisson Bortolini (Santa Catarina) observa que, para se ter um sistema de saúde mais equitativo, é preciso entender todos os atores desse sistema, onde estão as diferenças e como os membros locais podem ajudar para resolver. “Um exemplo clássico é a acessibilidade ao tratamento no sistema público ou privado. Aqui em Santa Catarina eu tenho facilidade em tratar a leucemia aguda muito maior do que o colega do Acre ou de Campo Grande. Regionalizar é um ponto fortíssimo do programa porque as diferenças são muito grandes. O fundamental para ser um sistema de saúde mais equitativo é entender essas diferenças”, enfatiza. Os médicos hematologistas Violeta Laforga (Paraná) e Marcelo Capra (Rio Grande do Sul) também integram o grupo da Região Sul. Na Região Sudeste, o grupo é formado pelos médicos Renato Cunha (São Paulo), Fernando Monteiro Correia Pinto (Rio de Janeiro) e Abrahão Neto (Minas Gerais). Coordenadores do Comitê de Acesso a Medicamentos da ABHH e do Programa de Equidade ABHH em visita a um serviço de Natal, no Rio Grande do Norte, como parte das ações do Programa de Equidade

a r t i g o A AGÊNCIA NACIONAL DE Vigilância Sanitária (Anvisa) reconheceu e regulamentou a terapia com CAR-T Cell como um medicamento. Recentemente, as pesquisas no Brasil e no mundo têm avançado no sentido de mostrar sua eficácia no tratamento de diversas doenças oncohematológicas. Contudo, ainda há obstáculos no Brasil que precisam ser superados para que o CAR-T Cell possa definitivamente ser incorporado aos sistemas de saúde público e privado, essencialmente ao primeiro. No setor privado, a terapia com o CAR-T Cell já é comercializada. No entanto, as operadoras dos planos de saúde, bem como outros atores da esfera da Saúde, alegam que essa terapia não pode ser considerada um quimioterápico infusional, apesar de ser um medicamento, dificultando o acesso dos pacientes. Além disso, elas tendem a resistir à incorporação supostamente por causa do impacto orçamentário. Mesmo assim, no longo prazo, o CAR-T Cell pode ser mais viável economicamente porque seu uso acontece uma única vez, enquanto determinados medicamentos, em linhas de tratamento já estabelecidas, precisam ser utilizados de modo contínuo, portanto, por mais tempo, tornando seus custos mais elevados. Com isso, se acentua a judicialização pelos pacientes, que requerem usar o CAR-T Cell, ampliando ainda mais os gastos em Saúde. Evidentemente, os custos do CAR-T Cell precisam se tornar mais acessíveis. A aposta é que novos estudos acadêmicos possam consolidar essa terapia por meio de mais ensaios clínicos em um futuro próximo e que aconteçam parcerias público-privadas, reduzindo os custos para manufatura e possibilitando, inclusive, que o CAR-T Cell se torne uma realidade no Sistema Único de Saúde (SUS) , abrangendo uma parcela da população que também precisa ter acesso a novas tecnologias em Saúde. Até que isso aconteça, será necessária uma força- -tarefa de instituições de Saúde comprometidas com o avanço da ciência e com a qualidade de vida dos pacientes em tratamento oncohematólogico. É o que a ABHH tem realizado por meio do diálogo com indústrias farmacêuticas, operadoras dos planos de saúde, órgãos governamentais, associações de pacientes e outros atores. Nossa aposta é que o CAR-T Cell trilhe o mesmo caminho do Transplante de Medula Óssea (TMO), vencendo as barreiras e se tornando, mais que um tratamento revolucionário, uma prática diária nos hospitais do Brasil. Avanços com CAR-T Cell e as barreiras que precisamos ultrapassar Dr. Angelo Maiolino Vice-presidente da ABHH e professor de Hematologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ainda há obstáculos no Brasil que precisam ser superados para que o CAR-T Cell possa definitivamente ser incorporado aos sistemas de saúde público e privado, essencialmente ao primeiro 07 / 2023 ABHH em Revista 19

cobertura Eventos de sucesso Realizada em Natal (RN), jornada científica sobre Leucemia Aguda inaugurou a agenda de eventos regionais da ABHH. Realizado virtualmente, a edição do Brazilian Lymphoma Conference de 2023 superou a marca de mil inscritos Por Fernando Inocente U m dia de discussões relevantes e de construção de novos horizontes para o cuidado do paciente com Leucemia Aguda foi a tônica da “Jornada Científica: Boas práticas no manejo da Leucemia Aguda”. Realizada em 17 de março no Hotel Golden Tulip, em Natal (RN), foi o primeiro evento regional do Programa Equidade ABHH. O encontro contou com a participação de 100 pessoas e a presença de equipes de Hematologia, Hemoterapia e Oncologia do Rio Grande do Norte e representantes de outros estados. A abertura coube ao vice-presidente da ABHH, Dr. Angelo Maiolino, que ressaltou a oportunidade de a ABHH promover debates focados na realidade local e com a presença de profissionais que a vivenciam. Durante a manhã, a programação abordou os aspectos e desafios do cuidado em rede ao paciente com leucemia no Rio Grande do Norte e o estado da arte na abordagem do paciente com LLA e LMA. À tarde, grupos de trabalho discutiram Comunicação/ABHH Ouça o episódio do HEMO PLAY Podcast com a participação do Dr. James Maciel (integrante do Comitê de Equidade ABHH) e do Dr. Rodolfo Daniel Soares, da UFRN e Hospital Rio Grande, ambos organizadores da jornada científica em Natal ABHH em Revista 07 / 2023 20

questões regionais sobre Leucemia Aguda no sistema público e privado. As recomendações para a Rede de Atenção Básica e de Urgências (UPAS), a implantação de um serviço de navegação de pacientes com Leucemias Agudas, o acesso a exames e medicamentos de alto custo e as vias de financiamento foram assuntos debatidos pelos especialistas. No começo da noite, os grupos apresentaram ao público um resumo das propostas levantadas. “Foi um marco reunir pessoas capacitadas em áreas como hematologistas, enfermeiros a manufaturistas e precificadores do SUS para propor melhorias para que o paciente receba o tratamento necessário em tempo”, afirma o Dr. Rodolfo Soares, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e chefe do Serviço de TMO do Hospital Rio Grande. “Reunimos muita gente boa para trocar experiências, enxergar dificuldades a serem vencidas e colocar as ideias num plano de ação para melhorar o cenário da leucemia aguda no estado”, afirma o Dr. James Maciel, Durante a passagem da ABHH por Natal, uma comitiva da associação visitou alguns serviços que atendem à população. As visitações têm o objetivo de identificar as realidades regionais para estruturar as principais possibilidades de atuação da ABHH na contribuição de melhorias. O grupo visitou o Hospital Universitário Onofre Lopes da UFRN, o Hemonorte, o Centro Avançado de Oncologia (Cecan) e a unidade ambulatorial da Liga Contra o Câncer, principal centro oncológico do estado. Após mapear as necessidades desses serviços durante a visita, a ABHH oferecerá alternativas possíveis para apoiá-los. “É uma honra coordenar o Comitê de Equidade que traz a essencialidade, acesso e equidade no seu DNA. Entender as diferenças no exercício da nossa especialidade, em cada região do país, é um passo fundamental para a melhoria da assistência aos nossos pacientes”, afirma o coordenador do comitê, Dr. Renato Cunha. diretor do Departamento de Hematologia do Hemocentro do Rio Grande do Norte (Hemonorte). Ambos organizaram o evento no estado. A enfermeira e pesquisadora do projeto de leucemias agudas do Hospital Universitário Onofre Lopes, Fátima Lucena, enfatizou que o encontro possibilitou a abordagem de uma importante temática por pesquisadores e especialistas da área, sendo enriquecedor para todos que participaram. “Além disso, os debates com profissionais e gestores dos diferentes serviços da rede de atenção à saúde do estado possibilitaram o alinhamento das melhores propostas para a implementação da linha de cuidados em leucemia aguda. Após o evento, essas propostas continuarão a ser alinhadas com os representantes da gestão de saúde para atingir o objetivo de oferecer o melhor cuidado ao paciente com leucemia aguda no Rio Grande do Norte. Agradecemos a ABHH por todo o apoio ao proporcionar a realização desse grande evento”, destacou Fátima, uma das organizadoras da jornada. VISITAS A SERVIÇOS EM NATAL (RN) Comunicação/ABHH Os vídeos da Jornada Científica sobre Leucemia Aguda e do BLC 2023 já estão disponíveis na HEMOTECA. Clique abaixo para acessá-los! 07 / 2023 ABHH em Revista 21

Registro do BLC 2023 cobertura Maior evento da América Latina sobre doenças linfoproliferativas e entre os principais no mundo, a 13ª edição do Brazilian Lymphoma Conference (BLC) cumpriu sua jornada de sucesso, superando a marca de mil inscritos. Realizado entre 29 de março e 1º de abril pela plataforma virtual de eventos da ABHH, o BLC 2023 foi marcado pela participação de palestrantes de alto nível e de inúmeros países que estão na linha de frente da pesquisa e tratamento das doenças linfoproliferativas no cenário global. Nos quatro dias de evento, médicos, estudantes e pesquisadores puderam discutir as atualizações sobre linfoma na área científica e na prática clínica. A programação ofereceu mais de 25 horas de conteúdos, num total de 16 sessões com 28 tópicos, com debates sobre as atualizações em linfoma na área científica e na prática clínica. Além disso, foram sete Simpósios Corporativos e duas Sessões de Discussão de Casos Clínicos com foco em vida real. Ponto alto do BLC 2023, a Conferência Magna apresentou atualizações dos estudos recentes realizados por pesquisadores de Lugano, na Itália. Mediado pelo Dr. Carlos Chiattone, chair e idealizador do BLC, a conferência foi ministrada pelo Dr. Franco Cavalli (Chile) e teve também a participação dos Drs. Rodrigo Calado e Phillip Scheinberg, ambos do Brasil. Na sequência, palestraram os Drs. Mark Roschewski (EUA) e Robin Foà (Itália). Na avaliação da Dra. Danielle Leão, membro de comitês da ABHH e Embaixadora do Programa Sangue Jovem, a lista de palestrantes incluiu importantes especialistas nas doenças linfoproliferativas. “Além de tudo isso, fiquei muito feliz ao ver a lista de palestrantes e organizadores e perceber a quantidade de mulheres presentes. São hematologistas do Brasil e do exterior mostrando a participação cada vez maior na ciência e na medicina. Gostaria de parabenizar o Dr. Carlos Chiattone e demais organizadores pelo evento”, enfatizou a hematologista. Ao final do BCL 2023, o Dr. Chiattone ressaltou seu orgulho em promover mais uma edição de alto nível científico do evento. "O estilo de debate promovido pelo BLC visa discutir não apenas inovações, mas também busca encontrar caminhos para os inúmeros desafios no acesso dos pacientes ao diagnóstico e tratamento dos linfomas. Com o debate sobre equidade que temos promovido dentro da ABHH, a forma mais rápida de conseguir possibilitar acesso universal a essas inovações é trazendo um número maior de estudos clínicos para o Brasil porque, mais do que disponibilizar medicamentos, estamos falando de criar as oportunidades reais. Temos muito orgulho de chegar ao fim do BLC 2023 e já de antemão observar os resultados e o retorno”, afirmou. Divulgação BLC 2023 superou a marca de mil inscritos O estilo de debate promovido pelo BLC visa discutir não apenas inovações, mas também busca encontrar caminhos para os inúmeros desafios no acesso dos pacientes ao diagnóstico e tratamento dos linfomas ABHH em Revista 07 / 2023 22

INFORME CORPORATIVO O conteúdo deste anúncio é de inteira responsabilidade da empresa e não representa necessariamente a opinião da ABHH.

Getty Images ABHH em Revista 07 / 2023 24 especial Mudança na lei de produção de hemoderivados

07 / 2023 ABHH em Revista 25 Em webinar, membros da Diretoria da ABHH debateram sobre a PEC 10/2022, proposta que permite a comercialização de plasma humano pelas iniciativas pública e privada Por Fernando Inocente U ma pauta que impacta diretamente a hematologia e a hemoterapia foi tema de um debate entre parlamentares e sociedade civil no Congresso Nacional. No dia 18 de abril, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal promoveu uma audiência pública para debater a PEC 10/2022. Essa proposta de emenda à Constituição permite a comercialização de plasma humano pelas iniciativas pública e privada, além de prever critérios para sua coleta e processamento. Sempre atenta às ações que impactam as especialidades no Brasil e no mundo, a ABHH realizou dias antes um webinar com a participação de membros da Diretoria para esclarecer sua posição sobre o teor da PEC. A ABHH é participante ativa e protagonista desta discussão. Além do webinar, a ABHH publicou em seu site a carta enviada ao senador Nelsinho Trad, autor da PEC. No documento, a associação se posiciona de forma favorável à participação da iniciativa privada na comercialização de plasma humano e no fracionamento do plasma humano excedente no Brasil, mas é contra a coleta remunerada de doadores de plasma por questões sociais e culturais. “O tema [da PEC] é absolutamente pertinente e a proposta deve ser observada com as devidas cautelas”, enfatiza a ABHH em seu posicionamento.

ABHH em Revista 07 / 2023 26 Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil coleta mais de três milhões de bolsas de sangue por ano, o que origina cerca de cinco milhões e meio de hemocomponentes. Deste total, dois milhões são descartados, sendo 80% no setor público e 20% no privado. Diretor científico da ABHH, o Dr. Dimas Tadeu Covas avaliou durante o webinar que muitos pontos da PEC não têm sido aprofundados e a discussão assumiu um tom mais emocional por parte da imprensa. “A Política de Hemoderivados no Brasil completará 60 anos em 2024. Até 1988, com a Constituição Brasileira, ocorreram algumas manifestações, mas pouco foi feito. Mesmo com a Lei do Sangue, de 2001, pouco se discutiu sobre o tema. Em 2004, com a fundação da Hemobrás, o assunto aparentemente foi relegado a esta decisão, esperando que ela sozinha pudesse resolver a questão”, disse. Participaram do webinar os Drs. José Francisco Comenalli Marques Jr. (presidente), Dante Langhi (diretor administrativo) e Carlos Chiattone (vice-diretor de Relações Institucionais). Brasil segue longe da autossuficiência Segundo o diretor científico da ABHH, o Brasil está longe de ser autossuficiente e distante de ter uma indústria de hemoderivados efetiva. Ele observou que até os Estados Unidos, um país autossuficiente nessa questão, tem sido desafiado pela demanda de plasma de outros países, principalmente da Europa. “Noventa por cento do plasma exportado dos Estados Unidos tem a Europa como destino, que depende de pouco mais de 50% do plasma americano para fazer funcionar a indústria de hemoderivados”, detalhou o Dr. Dimas, Em nota sobre a PEC 10/2022, a ABHH se posiciona de forma favorável a participação da iniciativa privada na comercialização de plasma humano e no fracionamento do plasma humano excedente no Brasil, mas é contra a coleta remunerada de doadores de plasma que complementou afirmando que essa questão é um problema global. Outro país que enfrenta dificuldades no mercado de hemoderivados é a China, que tem uma grande demanda de albumina e não consegue atender seu mercado interno. Neste contexto, os hemoderivados estão sendo considerados soluções estratégicas em muitos países, principalmente os de países com economias desenvolvidas, que trabalham para transformar este desafio em um ativo econômico e em um grande incentivo de políticas industriais. “Existe também um grande esforço para se obter a eficiência e a atualização no sentido de utilização clínica dos derivados do plasma, que estão sendo testados em estudos clínicos principalmente para doenças raras”, assinalou o Dr. Dimas.

07 / 2023 ABHH em Revista 27 Clique aqui para assistir webinar da ABHH sobre a PEC 10/2022 É possível dizer que, do ponto de vista da capacidade produtiva, estamos longe do ideal e é um erro acreditar que a iniciativa estatal dará conta. É preciso ter outro tipo de estratégia, mas, para isso, é preciso mudar a legislação Dr. Dimas Tadeu Covas, diretor científico da ABHH “É preciso mudar a legislação” Além de não produzir hemoderivados, o Brasil conta também com o Sistema Nacional de Sangue e Derivados (SINASAN), um sistema que apresenta baixa eficiência. Segundo o Dr. Dimas, o país conta com a Hemobrás há 18 anos, uma empresa que apenas importa produtos e distribui para o Ministério da Saúde principalmente, mas que não garante a autossuficiência nacional por hemoderivados. Além disso, outro fator importante para a expansão da produção nacional de hemoderivados é a própria legislação brasileira, que é restritiva, e impede o desenvolvimento da Política Nacional de Autossuficiência. Para o Dr. Dimas, seria necessário a existência de duas Hemobrás para atender as necessidades mínimas do Brasil. Já para as necessidades médias, o país precisaria de quatro Hemobrás. Atualmente o Brasil possui um grande número de pessoas que necessitam dos hemoderivados para sobreviver, mas que não têm sido fornecidos na quantidade necessária. Na pandemia, por exemplo, foram utilizados produtos não autorizados pela ANVISA por conta dessa escassez. São mais de 20 doenças, entre elas a hemofilia, que dependem de hemoderivados para o tratamento desses pacientes. “É impossível atender às necessidades brasileiras apenas com os doadores de sangue total, sendo necessária a introdução da plasmaférese para a obtenção do plasma industrial. É possível dizer que, do ponto de vista da capacidade produtiva, estamos longe do ideal e é um erro acreditar que a iniciativa estatal dará conta. É preciso ter outro tipo de estratégia, mas, para isso, é preciso mudar a legislação”, afirmou o Dr. Dimas.

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