ABHH em Revista #08/2023

#08 / 2023 CONQUISTA Entrevista com o italiano Massimo Federico, speaker da Conferência Magna do HEMO 2023 página 06 ABRE ASPAS Segunda edição da Corrida e Caminhada Um Só Sangue foi sucesso nas pistas e nas redes sociais página 22 COBERTURA Dra. Clarisse Lobo e seu aprendizado de mais de três décadas em cargos de liderança na gestão pública página 28 PERFIL Hematology, Transfusion and Cell Therapy (HTCT) obtém fator de impacto 2.1. Feito consolida a reputação internacional da revista científica da ABHH CIENTÍFICA

DIAGNOSTIC DIVISION AVANÇANDO EM MEDICINA TRANSFUSIONAL PENSANDO ALÉM DA CAIXA Nosso portfólio de medicina transfusional foi elaborado para ajudar hemocentros e centros de transfusão a garantir segurança desde a doação até a transfusão. Para mais informações contate-nos: medicinatransfusional.latam@grifols.com www.diagnostic.grifols.com TRIAGEM Sistema Procleix Panther e Ensaios Procleix: Soluções Grifols para triagem de doadores por tecnologia NAT TIPAGEM Ampla escalabilidade com a Linha DG Gel e soluções automatizadas para tipagem sanguínea ©2022 Grifols, S.A. All rights reserved worldwide. BR-DX3-2200001 INFORME CORPORATIVO O conteúdo deste anúncio é de inteira responsabilidade da empresa e não representa necessariamente a opinião da ABHH.

índice carta ao leitor p.04 | diretoria p.05 | em perspectiva P. 26 | giro ABHH P. 32 abre aspas p.06 debate ABHH p.10 Referência em linfomas, Massimo Federico relembra sua trajetória no campo da oncohematologia Reportagem aborda os avanços no tratamento da Doença Falciforme e o surgimento de novas terapias HEMO 2023 p.20 Os principais destaques na programação científica do congresso da ABHH, que será em São Paulo perfil p.28 cobertura p.22 Dra. Clarisse Lobo e seu aprendizado de mais de três décadas atuando em cargos de liderança na gestão pública ciência p.16 Hematology, Transfusion and Cell Therapy, revista científica da ABHH, conquista fator de impacto 2.1 Segunda edição da Corrida e Caminhada Um Só Sangue foi um sucesso nas pistas e nas redes sociais 08 / 2023 ABHH em Revista 3

carta ao leitor 4 Viver em tempos mais distantes do auge da maior pandemia dos últimos anos tem nos trazido muitos reaprendizados. O ano de 2023 ainda não acabou e tantos acontecimentos já nos cercaram e inúmeros avanços aconteceram de lá para cá. Fazendo uma análise em retrospecto, podemos dizer que a ABHH se empenhou em todos os seus pilares de missão, visão e valores nos primeiros três trimestres do ano. No momento em que nos preparamos para o HEMO 2023, esta edição da ABHH em Revista traz algumas repercussões importantes sobre o que vivemos até aqui. Uma das nossas reportagens exalta a conquista do fator de impacto 2.1 para a Hematology, Transfusion and Cell Therapy (HTCT), revista científica da ABHH, feito de extrema relevância para a comunidade científica brasileira. Agradecemos a todos os editores que fortalecem nossa revista científica. Também relembramos mais uma bem-sucedida edição da Corrida & Caminhada Um Só Sangue, que aconteceu no último fim de semana de junho, fechando o mês que lembra e reforça a importância da causa. A segunda edição desse tradicional evento do Programa Um Só Sangue, iniciativa da ABHH, reuniu duas mil pessoas, que correram para chamar a atenção à importância da doação de sangue no Brasil. Parabéns aos organizadores da corrida e aos patrocinadores desta edição. Ainda nesta edição, nossa reportagem ouviu presidentes de entidades que representam o setor de equipamentos de saúde para entender os desafios no desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias em Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Na mesma linha, em celebração ao Dia Mundial das Doenças Falciformes (19 de junho), conversamos com especialistas para mostrar os avanços no tratamento para os pacientes e abordar as novas terapias disponíveis. E, para aquecer as expectativas para o HEMO 2023, trazemos uma entrevista exclusiva com o onco-hematologista italiano Massimo Federico, speaker da Conferência Magna do nosso congresso deste ano. No bate-papo, o professor compartilha detalhes da sua carreira e a empolgação com a palestra “Linfomas: 50 anos de sucessos (muitos) e de fracassos (poucos, mas dolorosos)”, que acontecerá no dia 28 de outubro. O Prof. Massimo, além de simpático, é uma liderança global em linfomas. Esperamos que desfrute mais uma edição da nossa revista. Nos vemos no HEMO 2023! Forte abraço! Expectativa para o HEMO 2023 Dr. Renato Tavares e Dr. Jorge Vaz Neto Diretores de Comunicação ISSN 2179-4855 ABHH em Revista é uma publicação semestral da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) distribuída gratuitamente para seus associados. O conteúdo da publicação é de inteira responsabilidade de seus autores e não representa necessariamente a opinião da ABHH. JORNALISTA RESPONSÁVEL Roberto Souza (Mtb 11.408) EDITOR Madson de Moraes REPORTAGEM Danilo Gonçalves Luana Rodriguez Madson de Moraes Roberto Souza REVISÃO Celina Karam PROJETO EDITORIAL Madson de Moraes PROJETO GRÁFICO Leonardo Fial DESIGNERS Lucas Bellini Marcelo Cielo Rafael Bastos FOTO DE CAPA Comunicação/ABHH CONTATO COMERCIAL Caroline Frigene RS PRESS EDITORA Rua Cayowaá, 228 – Perdizes São Paulo – SP – 05018-000 (11) 3875-6296 rspress@rspress.com.br www.rspress.com.br ABHH Rua Dr. Diogo de Faria, 775, conj. 133 Vila Clementino São Paulo - SP (11) 2369-7767 / (11) 2338-6764 abhh@abhh.org.br www.abhh.org.br @abhhoficial ABHH em Revista 08 / 2023

DIRETORIA ABHH 2022-2023 Conheça os especialistas que integram a direção da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular Dante Mário Langhi Jr. Diretor Administrativo Rodrigo Calado Vice-Diretor Científico Alfredo Mendrone Júnior Diretor Financeiro Angelo Maiolino Vice-Presidente Dimas Tadeu Covas Diretor Científico Eduardo Magalhães Rego Diretor de Relações Institucionais Carlos Sérgio Chiattone Vice-Diretor de Relações Institucionais José Francisco Comenalli Marques Júnior Presidente Glaciano Nogueira Ribeiro Diretor de Defesa Profissional Celso Arrais Vice-Diretor de Defesa Profissional Carmino Antônio de Souza Coordenador de Comitês Roberto Passetto Falcão Diretor Científico Emérito Dr. José Orlando Bordin Diretor de Orientação e Aconselhamento Renato Sampaio Tavares Diretor de Comunicação Leny Nascimento da Motta Passos Vice-Diretora Financeiro Jorge Vaz Pinto Neto Vice-Diretor de Comunicação Silvia Maria Meira Magalhães Vice-Diretora Administrativa 08 / 2023 ABHH em Revista 5

Speaker da Conferência Magna do HEMO 2023, o italiano Massimo Federico relembra sua carreira e fala da expectativa de palestrar no congresso da ABHH Por Danilo Gonçalves COLABORAÇÃO Madson de Moraes Liderança global em linfomas Comunicação/ABHH ABHH em Revista 08 / 2023 6 abre aspas

Em 1976, tive a oportunidade e o privilégio de fazer parte de uma equipe que tratou um paciente com Anemia Aplásica com transplante de medula óssea singênico de um gémeo idêntico. Foi uma experiência única que me levou a continuar na área da onco-hematologia Acervo pessoal Natural de Taviano, uma pequena cidade da província italiana de Lecce, em Puglia, o onco-hematologista italiano Massimo Federico cresceu praticamente dentro do consultório do pai, que era clínico geral. Foi nesse cenário, lembra o italiano, que nasceu seu desejo de cursar Medicina na Universidade de Roma. “Meu pai me inspirou muito”, conta. Os primeiros 18 anos de sua vida ele passou entre Taviano e Gallipoli, rodeado pelo belíssimo Mar Jônico. Depois disso, mudou-se para a capital italiana para cursar Medicina na Universidade de Roma. Atualmente é professor da Universidade de Modena e Reggio Emilia. Speaker da Conferência Magna do HEMO 2023, o Prof. Massimo é um dos principais pesquisadores globais na área de linfomas, tendo presidido o Gruppo Italiano per lo Studio dei Linfomi (GISL) e a Fondazione Italiana Linfomi (FIL), resultado da fusão de todos os grupos dedicados ao estudo de linfomas. Ele também foi presidente da Associação Brasileira Ítalo-Brasileira de Hematologia (AIBE). Sobre a Conferência Magna que fará no dia 28 de outubro durante o HEMO 2023 com tema “Linfomas: 50 anos de sucessos (muitos) e de fracassos (poucos, mas dolorosos)”, o Prof. Massimo comenta sua empolgação em participar de mais um congresso promovido pela ABHH. “Fiquei surpreso e muito orgulhoso com o convite e a oportunidade de compartilhar, com tantos colegas no Brasil, minha longa jornada no campo do tratamento e pesquisa do linfoma. Espero não os aborrecer”, brinca o italiano, de 72 anos. Confira o bate-papo! Professor, o que o levou a se tornar médico? Meu pai era clínico geral e seu consultório fazia parte de nossa casa. Ele me inspirou muito. Para mim, foi simples escolher a Medicina como primeira opção no momento da matrícula na Universidade de Roma. Você tem longa carreira dentro da Universidade de Modena e em Reggio. Como ela começou? Logo após a formatura, me mudei de Roma para Modena e fui aceito como bolsista na Escola de Especialização em Hematologia. Nessa altura, em 1976, tive a oportunidade e o privilégio de fazer parte de uma equipe que tratou um paciente com Anemia Aplásica com transplante de medula óssea singênico de um gémeo idêntico. Foi uma experiência única que me levou a continuar na área da onco-hematologia. E a partir daí começa sua carreira acadêmica? Ela começou em 1978, quando fui nomeado professor assistente de Medicina Interna na Universidade de Modena e Reggio Emilia. Em 1985, virei Diretor-Adjunto na recém-criada divisão de Oncologia Médica. Depois, passei alguns anos entre o campus da Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, e o Centro de Câncer Massimo com Tanya, Yana, Martina, o grupo de colegas mais próximos com que trabalha na área de linfoma 08 / 2023 ABHH em Revista 7

da Universidade do Arizona, em Tucson, nos Estados Unidos. Em 1998, me tornei professor associado e professor catedrático de Oncologia Médica em 2002. Hoje, sou professor sênior de Oncologia Médica. Em 1994, de regresso dos EUA, lancei a campanha para a criação de um novo centro oncológico em Modena e, em 2001, tive o privilégio e a honra de concluir essa aventura com a abertura do Modena Cancer Center. Recentemente, vivenciei a extraordinária experiência como fundador e presidente da “La Cantera”, fundada em 2012, é inspirada no famoso campo de treinamento, de mesmo nome, criado pelo time de futebol do Barcelona para formar novos campeões. O La Cantera treina jovens hematologistas e os orienta e motiva em projetos científicos, colaborações e networking. Qual pessoa o inspirou a seguir a carreira em onco-hematologia? Fui inspirado pelo meu mentor (il mio maestro), o Prof. Carlo Mauri, um hematologista conhecido e reconhecido na Itália. Ele envolveu o jovem médico que eu era em uma análise retrospectiva de mais de mil pacientes afetados por linfoma maligno e tratados em nosso instituto nos últimos 20 anos. Passei muito tempo nos arquivos de prontuários clínicos, no porão da nossa clínica, para recuperar dados e copiá-los em formulários de registros de casos. Esse foi o meu começo como pesquisador. Das pesquisas que liderou, qual você mais se orgulha? Tive o privilégio de ser autor/coautor de mais de 500 artigos publicados no PUBMED. Entre eles, estou particularmente orgulhoso por ter liderado o ensaio “Terapia de altas doses e transplante autólogo de células-tronco versus terapia convencional para pacientes com linfoma de Hodgkin avançado", que responde à terapia de primeira linha, iniciado em 1994 e publicado em 2003. Este foi o primeiro estudo prospectivo randomizado, realizado em nível internacional, que mostrou que, em pacientes com LH avançado que responderam ao ABVD, a consolidação com ASCT foi inútil. Houve algum outro estudo do que se orgulhou? Um estudo que adorei e do qual me orgulho foi o ensaio F2, uma coleção prospectiva de dados do mundo real sobre linfomas foliculares (FL, na sigla em inglês), realizada pela primeira vez em todo o mundo, que nos permitiu coletar mais de 1.000 casos de LF recém-diagnosticados e construir o Índice Prognóstico FLIPI2. A AIBE completa 20 anos. O que essas décadas representam para você? Entrei na Associação em 2008, no encontro de Veneza, propondo uma reedição da “Rota de Colombo”, sendo a AIBE uma oportunidade única para criar uma forte Prof. Massimo (ao centro) em um dos vários encontros da AIBE realizado no Brasil ABHH em Revista 08 / 2023 8

Registro da participação do italiano na 7ª edição do Brazilian Lymphoma Conference, evento promovido pela ABHH também a visita à fazenda do Dr. Carlos Chiattone, para uma degustação de pratos e bebidas genuinamente brasileiros. Professor, qual a sua atuação fora da rotina no trabalho? Quando eu era jovem, meu principal interesse era jogar futebol, embora estivesse muito longe de ser campeão! Agora que estou maduro (nem um pouco velho), gosto de passar o tempo no campo, tentando produzir pequenas quantidades de vinho e azeite, além de frutas, legumes e tomates. Gosto de ver meus familiares vivendo bem, com boa saúde e alcançando o sucesso que merecem. Além disso, rezo pelo fim da guerra na Ucrânia e desejo aos meus colegas e amigos ucranianos um futuro brilhante e uma superação completa das consequências desse conflito dramático e injusto. Finalmente, qual sua expectativa para a Conferência Magna do HEMO 2023? Fiquei sinceramente surpreso e muito orgulhoso por este convite e pela oportunidade de compartilhar com tantos colegas no Brasil minha longa jornada no campo do tratamento e pesquisa do linfoma. E espero não os aborrecer! rede de médicos, investigadores e amigos. Considero a AIBE um dos grupos académicos mais relevantes dos quais tenho a honra de fazer parte, tendo orgulho de servir como presidente entre 2015 e 2019. Graças à AIBE, muitos investigadores, de ambos os lados do Atlântico, tiveram a oportunidade de conhecer e cooperar na área da Hematologia. Mais de 25 artigos científicos foram publicados até agora por membros da AIBE, demonstrando a relevância da intuição. Para mim, é o momento de expandir a AIBE e avançar para o envolvimento de outros países, tanto da Europa quanto da América do Sul. Das viagens que você fez com amigos da AIBE, qual a mais memorável? Uma das histórias mais engraçadas está ligada ao encontro da AIBE realizado em Campinas em 2013. Durante um intervalo, o Dr Carmino de Souza (atual Diretor dos comitês-técnicos científicos da ABHH e um dos fundadores da AIBE) nos propôs visitar a Mata Atlântica. E nós fomos! No entanto, ficamos um pouco assustados quando percebemos que se tratava de uma “área de risco para febre maculosa”, considerando assim a visita ao parque um “convite sutil” de Carmino para não eu não viesse mais às reuniões da AIBE! No mesmo ano, foi memorável Comunicação/ABHH Comunicação/ABHH 08 / 2023 ABHH em Revista 9

Getty Images Apesar de todos os avanços das últimas duas décadas, a DF segue sendo uma doença com elevada mortalidade. Novas terapias podem mudar este cenário Por Luana Rodriguez D ezoito anos após a criação da Política de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias do Ministério da Saúde, é possível falar em avanços no tratamento das pessoas com Doença Falciforme (DF). Novas abordagens terapêuticas surgiram nos últimos anos com a possibilidade de melhorar a qualidade de vida desses pacientes e reduzir as complicações provocadas pela doença. Médicos consultados pela reportagem avaliam o tratamento atualmente disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e as possibilidades de chegada dessas novas terapias aos pacientes. A coordenadora-geral da Coordenação de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Dra. Joice Aragão de Jesus, lembra que até 2005 não existiam protocolos no SUS com orientação de tratamentos para pacientes com DF. Foi apenas naquele ABHH em Revista 08 / 2023 10 debate ABHH AVANÇOS NO TRATAMENTO DA DF

ano que foi publicada a portaria que criou a Política Nacional de Atenção Integral às pessoas com Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias. A partir de então, complementa a Dra. Joice, foram estabelecidos protocolos de tratamento de cuidados na rede de hemocentros. “De 2005 a 2015, com a participação e realização de simpósios internacionais e nacionais, a doença falciforme ganhou mais projeção dentro da emergência dos hospitais e nos ambulatórios”, lembra a coordenadora. Em relação ao tratamento atual que o SUS oferece aos pacientes com DF, o tratamento com a hidroxiureia (HU), a gestora afirma que este protocolo com HU passa por uma reformulação no Ministério da Saúde com o propósito de ampliar seu uso para crianças a partir de nove meses. “Por reduzir a quantidade de crises e melhorar a qualidade de vida, a hidroxiureia é importante no tratamento. A maioria das pessoas com DF dentro do PCDT pode se beneficiar do seu uso. Dentro do Ministério da Saúde, vamos iniciar um trabalho de capacitação para que se volte a usar a HU, pois houve uma parada”, afirma Joice, que conversou com nossa reportagem durante o X Encontro do Comitê de Glóbulos Vermelhos e do Ferro da ABHH, realizado este ano na capital paulista. “Não há dúvida de que a HU mudou a história natural da DF com redução das crises vaso-oclusivas (VOCs), internações, complicações agudas e crônicas, transfusão e da mortalidade”, reforça o membro do Comitê de Glóbulos Vermelhos e do Ferro da ABHH e pesquisador clínico do Hospital Samaritano em São Paulo, Dr. Rodolfo Cançado. Ele pontua, no entanto, que a comunidade científica médica observa que As associações de pacientes desempenham um papel crucial no apoio, conscientização e advocacy em relação à DF. Uma delas é a Federação Nacional de Associações de Pessoas com Doença Falciforme do Brasil (FENAFAL). Segundo a coordenadora da federação, Maria Zenó Soares, mesmo sendo a doença hereditária com maior prevalência no Brasil e sendo prevalente na população negra, é pouco divulgada. Ele conta que 95% dos pacientes de DF são negros e negras, 98% beneficiários do Bolsa Família, 92% das mulheres com DF ou das mães de pessoas com a doença são mães solos e 93% dos pacientes adultos não concluíram o Ensino Fundamental. “Temos ainda tem muita dificuldade de acesso ao tratamento. E isso se dá devido ao racismo”, afirma “E a principal dificuldade é de acesso ao tratamento, às medicações, às novas tecnologias. Principalmente no que diz respeito à urgência e emergência. A partir da observação dessa realidade, percebemos que as pessoas têm menos acesso aos serviços e à informação. Nesse sentido, as associações de pacientes se transformaram em pólos de conscientização e luta pelos direitos das pessoas com DF”, explica Maria Zenó. Fundadora do projeto Lua Vermelha, entidade que atua para dar maior visibilidade à DF, a Dra. Marimilia Pita explica que a ONG atua também para atenuar o estigma das pessoas com essa doença. Pelo fato de a DF ser mais comum na população negra, há um preconceito em torno dessa condição. “Quando falamos em diversidade, equidade e inclusão, temos que discutir também a DF. Embora sua origem seja no continente africano, ela atinge muitas pessoas brancas. Quem possui uma condição financeira melhor consegue um tratamento mais apropriado, o que não acontece com pessoas pretas e pobres, dependentes, na maioria, de hospitais públicos e especialmente de regiões mais periféricas”, pontua. “Temos que melhorar a informação para a população em geral sobre a doença para que esse paciente seja melhor acolhido, trazendo maior aceitação e inclusão e melhora da sua qualidade de vida”, comenta. ATUAÇÃO EM DEFESA DOS PACIENTES 08 / 2023 ABHH em Revista 11

Arredondadas, flexíveis e repletas de uma proteína chamada hemoglobina (Hb), as hemácias circulam livremente por todos os vasos sanguíneos do corpo. A Hb - responsável pela cor vermelha do sangue e pela distribuição do oxigênio do pulmão para o resto do corpo – divide-se em dois tipos, determinados por meio de herança genética do pai e da mãe. A fusão destas hemoglobinas resulta em diversas outras, como a comum HbA, as anormais HbC, HbD, HbE e a HbS, responsável pela falcização das hemácias (formato de foice). O agrupamento de hemoglobinas C, D ou E, com a S, compõem um grupo de enfermidades chamado Doença Falciforme. De origem africana, a doença genética hereditária, qualificada por alteração sanguínea que causa anemia crônica, dores generalizadas e icterícia, é comum em pessoas de origem afrodescendente. Apesar da incidência da doença falciforme ser maior em afrodescendentes, estudos populacionais demonstram a presença da DF em descendentes de italianos, indianos e gregos. o tratamento com HU não é eficiente para prevenir por completo as VOCs, que cronicamente afetam a função de órgãos vitais como rins, fígado, cérebro, coração e pulmões. Isto justifica, pelo menos em parte, os resultados observados pelo recente estudo brasileiro (Cançado et al., 2023) que avaliou 6.549.812 pessoas da população geral e 3.320 pacientes com DF que foram a óbito entre 2015 e 2019 no país. “Este estudo mostrou que a média de idade ao óbito e a sobrevida média foi de 37 anos e 40 anos para as pessoas com DF e de 69 anos e 80 anos para as pessoas sem DF, respectivamente. Portanto, apesar de todos os avanços que tivemos nas últimas duas décadas, a DF continua sendo uma doença com elevada morbidade e mortalidade”, explica o Dr. Cançado Desenvolvimento de novas terapias Até recentemente as duas opções de tratamento da DF eram a transfusão de hemácias e a hidroxiureia. O transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas é uma opção curativa para os pacientes e deve ser considerado em pacientes sintomáticos, entretanto, se trata de procedimento terapêutico limitado sobretudo pela baixa disponibilidade desta terapia em certas partes do mundo, particularmente em países de baixa renda. Dados de 2018 mostram que cerca de 2.000 indivíduos com DF tinham sido submetidos ao transplante alogênico no mundo, com taxa de sobrevida livre de doença de mais de 90%. A terapia gênica também está sendo testada para pacientes com a doença, com resultados bastante promissores. Na prática, o melhor tratamento atualmente disponível é o manejo farmacológico com + SOBRE A DOENÇA FALCIFORME Assista às videoaulas para ampliar seus conhecimentos sobre DF. ABHH em Revista 08 / 2023 12 debate ABHH

combinações de medicamentos. “O fato de a DF ser um problema de saúde pública no Brasil e no mundo vem motivando pesquisadores e centros de pesquisa a realizar estudos e desenvolvimento de alternativas capazes de melhorar este cenário. Nos últimos seis anos, três novos medicamentos foram aprovados pela agência regulatória norte-americana para o tratamento da DF: o aminoácido L-glutamina; o Voxelotor, um medicamento estabilizador da hemoglobina; e o Crizanlizumabe, um anticorpo monoclonal. São terapias inovadoras com bons resultados quanto à eficácia, segurança e melhora da qualidade de vida das pessoas com DF”, explica o hematologista. Desafios na incorporação Apesar do cenário animador com novas terapias, existe um longo caminho até que cheguem aos pacientes. "Ainda enfrentamos desafios no acesso a essas novas terapias, especialmente no SUS, pelo investimento que essas terapias representam e pelo baixo orçamento em saúde. Vale ressaltar que todos os pacientes atendidos pelo SUS têm direito à HU, mas o crizanlizumabe ainda não está incorporado, embora tenha sido registrado e aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 2020” lembra o Dr. Cançado. Outro desafio é sobre o processo de dispensação da HU no Brasil: como a compra não é centralizada, o acesso a ela não é homogêneo no país. “Além disso, não temos um registro brasileiro de DF e, portanto, não temos dados reais quanto ao número, localização e situação da saúde das pessoas com a doença. Isso, obviamente, impacta negativamente na estratégia de compra da HU pelos gestores estaduais a fim de disponibilizar o medicamento de forma adequada e regular para todos os pacientes com indicação de HU”, alerta o pesquisador. A Dra. Joice Aragão de Jesus, do Ministério da Saúde, explica que, em alguns estados, existe uma subnotificação da DF, prejudicando a triagem. “Alguns locais deixaram de fazer essa triagem e por isso os números de diagnósticos que temos hoje não são confiáveis”, aponta. Com o intuito de melhorar o sistema de notificação de pacientes, o Web Hemoglobinopatias, a Dra. Marimilia Pitta, conta que a ABHH propôs em 2021 uma parceria, que ainda não se concretizou, com o Ministério da Saúde. “Espero um dia termos condições de fazer o registro de todos os pacientes”, afirma a médica, membro do Comitê de Glóbulos Vermelhos e Ferro da ABHH. 08 / 2023 ABHH em Revista 13 A terapia gênica também está sendo testada para pacientes com a doença, com resultados bastante promissores. Na prática, o melhor tratamento atualmente disponível é o manejo farmacológico com combinações de medicamentos

ABHH em Revista 08 / 2023 14 de experiência salvando vidas pelo país! Juntos, somamos + de 600 anos INFORME CORPORATIVO O conteúdo deste anúncio é de inteira responsabilidade da empresa e não representa necessariamente a opinião da ABHH.

08 / 2023 ABHH em Revista 15 Acesse nosso site e saiba mais!

Getty Images Conquista científica Hematology, Transfusion and Cell Therapy (HTCT), revista científica da ABHH, conquistou fator de impacto 2.1, a colocando entre as melhores revistas de Hematologia do mundo O ano de 2023 foi marcante para a produção científica brasileira em de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Isso porque a Hematology, Transfusion and Cell Therapy (HTCT), revista científica da ABHH, recebeu o Fator de Impacto 2.1, o que colocou a publicação entre as 100 primeiras revistas científicas da área de Hematologia em todo o mundo com este mesmo de fator de impacto. Além disso, na classificação atualizada do Journal Citation Reports (JCR), publicado anualmente pela Clarivate Analytics, a HTCT está na 41ª posição entre as revistas científicas de todas as áreas em nível Brasil. A HTCT é também a revista científica da Associação Ítalo-Brasileira de Hematologia (AIBE), do Eurasian Hematology Oncology Group (EHOG) e da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE). O fator de impacto de uma publicação científica é um parâmetro internacional que considera a somatória de citações que uma publicação recebe em artigos científicos Por Madson de Moraes diversos, dividindo esse número pela quantidade de artigos científicos publicados nos dois anos anteriores. “O corpo editorial e a comunidade científica brasileira receberam com muita alegria a informação de que o fator de impacto da nossa publicação havia ascendido rapidamente, demonstrando o prestígio da revista científica da ABHH”, afirma o editor-chefe da HTCT, Dr. Eduardo Rego. Em 2021, quando a HTCT completou 10 anos de internacionalização, o então editor- -chefe da publicação, Dr. Fernando Ferreira Costa, destacou a crescente credibilidade do periódico junto à comunidade científica no Brasil, na América Latina e no mundo. Na época, a HTCT já recebia artigos de pesquisadores de diversos países do Oriente Médio, América do Sul, Europa e dos Estados Unidos e também já era a revista científica da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) e Associação Ítalo-Brasileira de Hematologia (AIBE). “A HTCT está se ABHH em Revista 08 / 2023 16 ciência

tornando a porta de entrada da Hematologia na América Latina. Temos recebido cada vez mais trabalhos dos Estados Unidos e de países da Europa. Ela está se consolidando. É um trabalho lento, sério e que requer credibilidade”, afirmou em matéria publicada na ed. 3 da ABHH em Revista. Rigor científico O Dr. Eduardo relaciona o avanço da HTCT no cenário da produção científica global ao criterioso trabalho de anos exercido pelo corpo editorial, com destaque para o rigor científico na análise dos artigos recebidos. “O corpo editorial da HTCT é bastante experiente, com boa maturidade científica e, assim, a maior parte das análises para ressubmissões aspira análises melhores”, comenta. Além disso, a própria comunidade da ABHH tem escolhido a HTCT para a divulgação de diretrizes de doenças hematológicas e consensos de interesse geral para os hematologistas, como é o caso do projeto Diretrizes, realizado em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB) e a publicação de Consensos, como o recente Terapia Celular, da ABHH. “O grande objetivo da HTCT é ser uma revista cada vez mais respeitada na comunidade científica e na comunidade de hematologistas e estudiosos das doenças do sangue”, projeta o editor-chefe. “Naturalmente, temos privilegiado trabalhos realizados pela comunidade brasileira e também dos autores e autoras latino-americanos e de outros países em desenvolvimento, nos quais há uma progressiva melhora da produção científica.” Aumento de artigos submetidos Em 2022, a revista científica da ABHH recebeu 470 manuscritos para submissão, dos quais 97 foram aceitos e o total de A HTCT passou por uma modernização em sua capa, ganhando um logo novo em comemoração ao primeiro fator de impacto conquistado. A nova capa está alinhada com o movimento visual da ABHH, baseado em mais linhas e fontes mais clean e não serifadas. O novo logo foi escolhido por votação pelos seguidores do Instagram da ABHH. HTCT GANHOU LOGO E CAPA NOVOS 08 / 2023 ABHH em Revista 17

artigos submetidos por autores estrangeiros cresceu 60%. Já o número de acessos (incluindo downloads de arquivos ou leituras na íntegra) já atingiu a marca de 500 mil, o que indica que a publicação é bastante utilizada pela comunidade científica. “A Hematology, Transfusion and Cell Therapy está em constante renovação e nossa nova logomarca tem o objetivo de refletir essa constante análise, aprimoramento e maior credibilidade junto à comunidade científica em todo o mundo”, observa. Na avaliação do coordenador dos Comitês Técnicos-Científicos da ABHH, Dr. Carmino Antônio de Souza, esta é uma das conquistas de maior importância para a ABHH desde que a revista foi internacionalizada há cerca de 10 anos. “Nosso primeiro fator de impacto foi extraordinário. Diria até que foi acima do esperavamos. Isso é um começo extraordinário e nos coloca entre as melhores revistas de Hematologia do mundo. Hoje temos uma revista internacional reconhecida e de qualidade prestigiada por todo o sistema científico”, afirma. Envie a câmera do celular para enviar seu artigo para a HTCT O fator de impacto mede o número médio de citações recebidas em um ano por trabalhos publicados na revista durante os dois anos anteriores. Por exemplo: A = número de vezes que artigos publicados em um periódico específico em 2014 e 2015 foram citados por periódicos durante 2016. B = o número total de “itens citáveis” publicados por essa revista em 2014 e 2015. ('Itens citáveis' são geralmente artigos, resenhas, anais, etc.; não editoriais ou cartas ao editor.) Fator de impacto 2016 = A/B. O valor real é intencionalmente exibido apenas para o ano mais recente. Valores anteriores estão disponíveis nos Journal Citation Reports, da Clarivate Analytics Fonte: Clarivate Analytics Nosso primeiro fator de impacto foi extraordinário. Diria até que foi acima do esperavamos. Isso é um começo extraordinário e nos coloca entre as melhores revistas de Hematologia do mundo” Dr. Carmino Antônio de Souza, coordenador dos Comitês TécnicosCientíficos da ABHH ENTENDA MAIS SOBRE O FATOR DE IMPACTO ABHH em Revista 08 / 2023 18

08 / 2023 ABHH em Revista 19 INFORMECORPORATIVO O conteúdo deste anúncio é de inteira responsabilidade da empresa e não representa necessariamente a opinião da ABHH. A Pint Pharma é uma companhia farmacêutica de biotecnologia que está no Brasil desde 2017 com sede na Europa e DNA latino-americano. Comercializamos e registramos tratamentos altamente especializados em parceria com laboratórios farmacêuticos líderes mundiais, o que nos possibilita ser um provedor pan-americano de tratamentos inovadores e de alto valor agregado em: 0800 3060686 sac.brasil@pint-pharma.com Para saber mais sobre a Pint Pharma escaneie o QR Code: ONCOLOGIA HEMATOLOGIA DOENÇAS RARAS Material destinado à classe médica. ICL_2023_Agosto_014 – Produzido em Julho de 2023 O conteúdo deste anúncio é de inteira responsabilidade da empresa e não representa necessariamente a opinião da ABHH.

HEMO 2023 Save the date: HEMO 2023 Congresso deste ano será presidido pelo Dr. Carlos Chiattone, referência global em linfomas e terá também Conferencista Magna feita pelo italiano Massimo Federico Por Danilo Gonçalves A edição de 2023 do Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (HEMO), que acontecerá de 25 a 28 de outubro, no Transamerica Expo Center, na capital paulista, tem de tudo para entrar para a história. O principal evento da ABHH será presidido duas vezes pela mesma pessoa. Diretor da ABHH e referência global em linfomas, o Dr. Carlos Chiattone será o chair do HEMO 2023 – ele liderou o congresso em 2004. A grade científica do HEMO 2023 será distribuída em 10 salas, com programação simultânea nas áreas de Hemoterapia, Terapia Celular e TMO, Onco-Hematologia, Hematologia Pediátrica, Hemostasia e Trombose, Anemias, Citometria de Fluxo, Hematologia e Hemoterapia Laboratorial, Cuidados Paliativos e Eventos Multidisciplinares. “O HEMO tradicionalmente é uma excelente oportunidade de celebrar, reencontrar amigos e fazer networking”, afirma Chiattone ao dizer que, a cada ano, o congresso da ABHH se consolida como uma vitrine do que há de mais inovador do ponto de vista de pesquisa, conquistas e acesso em Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. “Podemos dizer que o HEMO está consagrado pela excelência apresentada anualmente especialmente porque a coordenação científica possui a excelência de fazer uma programação cada vez mais multidisciplinar”, ressalta o diretor. A expectativa é de que o congresso receba mais de cinco mil pessoas ao longo do evento. ABHH em Revista 08 / 2023 20

FÓRUM DE ACESSO E EQUIDADE NA SAÚDE Outro destaque da programação do HEMO 2023 será o Fórum de Acesso e Equidade na Saúde, no segundo dia do congresso (26 de outubro). Entre os temas das mesas do fórum estão o papel das sociedades de especialidades médicas na incorporação de novas tecnologias nos sistemas de saúde brasileiros, acesso de pacientes onco-hematológicos a tratamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) e avaliação de tecnologias nos sistemas de saúde. Também acontecerão mesas com temas como estudos clínicos e equidade, a Lei dos 30 e 60 dias no diagnóstico e início do tratamento no SUS, estratégias para combater as desigualdades regionais através da mídia e ações de advocacy nas transformações sociais, entre outros. SIMPÓSIO DISCUTIRÁ ESTUDANTES DE SANGUE A doação de sangue estará presente na programação científica. No dia 27 de outubro, o evento terá o Simpósio Captação de Doadores de Sangue com diversas mesas com especialistas discutindo o tema. Pela manhã, os temas serão o retorno de doadores aos hemocentros e hemonúcleos e a gestão de estoque alinhada às ações de captação de sangue. À tarde, os especialistas debaterão as ferramentas para otimizar as coletas externas, a visão multidisciplinar nas coletas externas, metodologias de atendimento ao doador, estratégias de comunicação para doação de sangue, indicadores de satisfação do doador para fidelização e articulação entre hemocentros e centros de ensino e pesquisa para a captação, entre outros assuntos relevantes. EVENTOS VOLTADOS PARA ESTUDANTES E RESIDENTES No dia 26 de outubro, acontecerá o Simpósio Ligas Acadêmicas, com uma programação que conta com palestras sobre diagnóstico de pacientes onco-hematológicos, terapia gênica em anemia falciforme, princípios do tratamento com células CAR-T, produção científica e inteligência artificial e carreira acadêmica na área, entre outros. Também haverá espaço para trocas de experiências com a Ligas Acadêmicas presentes. Já no dia 28, haverá o Simpósio Residência Médica, com mesas abordando temas como interpretação de estudos clínicos, residência médica em Hematologia e Hemoterapia no Brasil, interconsultas na área, entre outros. Ambos os simpósios terão espaços para perguntas e respostas do público e intervalo SPEAKERS DE TODOS OS CONTINENTES Ao reunir médicos, pesquisadores, residentes, estudantes, gestores, representantes da indústria farmacêutica e de associações de pacientes, o HEMO 2023 possibilitará um intercâmbio global de informações, tanto sobre diversidade de temáticas quanto de opiniões vindas de todos os continentes. O Dr. Chiattone comenta que os speakers estrangeiros são estrategicamente convidados pelas Comissões Científicas do congresso de acordo com seus trabalhos e pesquisas recentes. Em 2023, serão mais de 60 speakers de 17 países. CONFERÊNCIA MAGNA SOBRE LINFOMAS Na edição deste ano, a Conferência Magna será ministrada pelo Prof. Massimo Federico, da Universidade de Modena e Reggio Italia. A palestra terá como tema “Linfomas: 50 anos de sucessos (muitos) e de fracassos (poucos, mas dolorosos)”. Massimo é ex-presidente da Associação Ítalo-Brasileira de Hematologia (AIBE). Também é destaque a tradicional feira de exposição, que trará as principais novidades em tecnologias medicamentosas e de equipamentos trazidas pelas principais empresas reconhecidas do setor. São elas que também promovem os importantes simpósios corporativos do HEMO e os Cafés com Especialistas. HIGHLIGTHS OF PAST EHA E SESSÃO CONJUNTA COM A ASH A programação do HEMO 2023 terá ainda os tradicionais e relevantes simpósios conjuntos promovidos em parceria com sociedades médicas internacionais. O Simpósio “Highlights of Past EHA”, organizado em conjunto com a Associação Europeia de Hematologia (EHA na sigla em inglês), acontecerá no dia 26 de outubro. O simpósio debaterá alguns dos principais temas científicos apresentados no congresso do EHA realizado em junho na Alemanha. Já a Sessão Conjunta entre a Sociedade Americana de Hematologia (ASH, na sigla em inglês) e a ABHH acontecerá no dia 27 de outubro com o tema "Como a tecnologia pode colaborar para o progresso do tratamento da anemia falciforme: o desenvolvimento da ASH data hub e da SCD Clinical Trials Network." CONFIRA OS DESTAQUES DO HEMO 2023: 08 / 2023 ABHH em Revista 21 ACESSE O SITE DO HEMO E CONFIRA TODA A PROGRAMAÇÃO!

cobertura Fotos: Comunicação/ABHH e conscientização Duas mil pessoas se inscreveram para a 2ª edição da Corrida e Caminhada Um Só Sangue, realizada em junho em São Paulo. Número de inscritos superou o de 2022 Por Stephanie Barreto Corrida ABHH em Revista 08 / 2023 22

Q uando era criança, o personal trainer Victor Iannicelli tinha muito medo de agulha. Esse sentimento só deixou de existir quando ele, já adulto, participou de uma campanha de doação de sangue na empresa em que seu amigo trabalhava. “Eu doei sangue e entendi que a dor não era o monstro que eu pintava”, lembra. Aos 37 anos, Victor foi uma das duas mil pessoas que se inscreveram para participar da 2ª edição da Corrida e Caminhada Um Só Sangue, promovida pela ABHH, Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e Associação Brasileira de Talassemia (Abrasta). O valor arrecadado na ação, que aconteceu no Campo de Marte, na capital paulista, será destinado a outras ações em prol da causa. Pelo segundo ano seguido, corredores profissionais, amadores e apoiadores se reuniram para participar da Corrida e Caminhada Um Só Sangue que, além de promover o esporte, promove a cultura da doação no Brasil. Na edição deste ano, adultos participaram de provas de 5km e 10km, enquanto as crianças, de 4 a 12 anos, puderam participar do trajeto de 400m a 800m. “Foi maravilhoso presenciar a participação de famílias e pessoas de todas as idades. Ver também as torcidas pelas equipes, todos compartilhando fotos e vídeos em suas redes, as selfies com sorrisos lindos mostrando a medalha. Tivemos um número de inscritos muito superior ao número da 1ª edição, em 2022. A Corrida e Caminhada Um Só Sangue já se consolidou no calendário de eventos esportivos. Agradeço a nossos patrocinadores e apoiadores, que possibilitaram viabilizar mais uma edição do evento que estimula a cultura da doação de sangue”, ressalta o presidente da ABHH, Dr. José Francisco Comenalli Marques Jr. Ótima repercussão nas redes Fora das pistas de corrida, a ação também repercutiu positivamente nas redes sociais, com corredores Assista ao vídeo que celebra a 2ª edição da Corrida e Caminhada. Público posando com a medalha conquistada durante a edição Registro da corrida das crianças, que também abraçaram a causa junto com seus pais 08 / 2023 ABHH em Revista 23

comentando e postando fotos com suas medalhas. Corredora amadora e doadora de sangue regular, Cátia Augusto celebrou em seu perfil no Instagram sua participação. “Quantas pessoas empenhadas pela causa e fiquei muito feliz em reencontrar muitas amigas e amigos. Vamos aumentar o número de doadores de sangue”, escreveu. A fisioterapeuta Niséia Machado, também corredora amadora, disse em seu perfil, também no Instagram, de sua alegria em participar da Corrida e Caminhada Um Só Sangue: “Mais uma daquelas [corridas] que a gente corre com o coração quentinho, principalmente por ser doadora”, publicou. O psicólogo João Borges correu nas duas edições e ressalta a importância dessa ação. “Foi lindo ver a conscientização de todos. Estarei na corrida de 2024”, garantiu. Além da corrida e da caminhada, o Programa Um Só Sangue promove ao longo de todo ano ações de coleta de sangue em parceria com entidades da sociedade civil, com times de futebol, legisladores, influenciadores e associados da ABHH, buscando criar e consolidar um calendário anual duradouro de doação no Brasil. Lembra-se do Victor citado no começo da reportagem? Após sua primeira doação, ele sempre busca estimular amigos e pessoas próximas a fazerem o mesmo gesto: “Na primeira vez que fiz uma campanha na academia onde trabalhava, comprei bexigas vermelhas e presenteei os doadores para agradecer”. Ele conseguiu terminar o percurso de cinco quilômetros em 28 minutos. “Aquela manhã de domingo, mais que uma manhã de esportes: foi um encontro de amigos”, celebrou. Outros registros da 2ª Corrida e Caminhada: cobertura ABHH em Revista 08 / 2023 24

Confira todas as fotos! Fotos: Comunicação/ABHH

Getty Images ABHH em Revista 08 / 2023 26 em perspectiva Hemoterapia Presidentes de entidades da área de equipamentos de saúde falam dos desafios e avanços tecnológicos na Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular Por Roberto Souza Q uem passa pela área de exposição dos congressos da área médica nem sempre se dá conta dos avanços nas tecnologias de equipamentos e dispositivos diagnósticos. Tecnologias, como aprendizado de máquinas, internet das coisas, sequenciamento de próxima geração, inteligência artificial, miniaturização e hubs de inovação, já fazem parte da rotina dos médicos e profissionais da saúde. A reportagem da ABHH em Revista conversou com presidentes de entidades do setor de equipamentos de saúde para comentar os desafios e avanços tecnológicos na Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. No campo da Onco-Hematologia, os últimos anos foram marcados por inovações tecnológicas em equipamentos na área de genética, como os equipamentos com tecnologia de sequenciamento de próxima geração (da sigla NGS – Next-Generation Sequencing). Os equipamentos de NGS ampliam a capacidade de análise do genoma humano, reduzindo custo e tempo de sequenciamento, beneficiando toda a cadeia da Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. O uso de painéis para fazer testes com vários genes de uma só vez, possibilitando diagnósticos múltiplos, permitem localizar mutações em conexão direta com os centros de pesquisa. Atualmente, existem várias empresas de sequenciamento de DNA que comercializam tecnologias NGS de segunda ou terceira geração. Sobre a indústria que abastece os bancos de sangue e hemocentros, existe um grande mercado a ser explorado diante da necessidade de ampliação do número de doadores de sangue total e de plasma para a produção de imunoglobulina, albumina e fatores de coagulação, entre outros hemoderivados. A avaliação é do Presidente Executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), Carlos Eduardo Gouvêa. “A indústria está preparada para esse aumento de demanda, oferecendo segurança e agilidade nos processos”, afirma. Ampliar essa captação, acrescenta Gouvêa, é algo estratégico para que o Brasil não fique totalmente dependente do mercado exportador que, por ser sensível a rupturas logísticas, guerras e escassez, impõe preços e condições para a venda de seus produtos. Para impulsionar o desenvolvimento de tecnologias na área da saúde, o presidente da CBDL defende a integração entre hubs de inovação, desenvolvimento tecnológico e capacitação em várias cidades brasileiras, além da participação estratégica do país em cadeias globais de produção. e inovação

08 / 2023 ABHH em Revista 27 Capacidade de inovar Qual a posição do Brasil em relação às tecnologias e à produção de equipamentos para a área da saúde? Na avaliação do CEO da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (ABIMO), Paulo Henrique Fraccaro, o país ainda não tem capacidade de grande inovação. “As empresas brasileiras que participam de feiras internacionais observam as tendências tecnológicas e acabam desenvolvendo para o nosso segmento os produtos que mais se adequam à realidade nacional. Uma empresa que se propõe a ser totalmente inovadora e só pensar no mercado nacional ainda não terá volume suficiente de vendas. Tudo está ligado ao mercado internacional,” diz. Fraccaro lembra que o setor da saúde no Brasil não é tão grande assim, embora represente quase 10% do PIB. “A estratégia é produzir internamente componentes e produtos que são mais críticos na área da saúde”, analisa o presidente da ABIMO. Ao referir-se ao uso da inteligência artificial, Fraccaro observa que o Brasil ainda está em uma fase embrionária. Na Hematologia e a Hemoterapia, o uso da inteligência artificial ocorre principalmente na análise de imagens das células sanguíneas, cuja morfologia pode ser obtida de forma rápida e segura. Crescimento esperado O segmento de dispositivos médicos, representado pela Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (ABIMED), cresceu de 2022 a 2023 em torno de 10 a 12%. As projeções são otimistas porque a saúde é um dos poucos setores que demanda cada vez mais atenção, acrescentou Fraccaro. “Considerando que boa parte da população recebe pouco atendimento e diante das necessidades que temos, concluímos que realmente a saúde terá ótimo crescimento no futuro”, avalia. Em relação ao cenário de negócios no setor da tecnologia da saúde, um levantamento da ABIMED, feito com empresas associadas, apontou que elas esperam crescer no segundo semestre deste ano. “Com base no levantamento, fica patente que a ABIMED representa um grupo de empresas que vêm tendo capacidade e resiliência não só para seguir crescendo mesmo em cenários de incerteza e dificuldades operacionais, como igualmente, dada a maior segurança jurídica e a redução do custo Brasil, seguirão mantendo e ampliando seus investimentos no país”, afirma o presidente da ABIMED, Fernando Silveira Filho. A evolução tecnológica dos bancos de sangue, hemocentros e agências transfusionais precisa acompanhar a evolução das pesquisas, ensaios clínicos e gestão dessas instituições. Chefe do Departamento de Aféreses da Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo e Gerente Médico do Serviço de Hemoterapia do DASA Hospital Nove de Julho, o Dr. César de Almeida Neto comenta que, entre a década de 1980 e começo dos anos 2000, a principal preocupação era com o produto e com a segurança dos hemocomponentes, evitando que a transfusão transmitisse o HIV e outras doenças da época para o receptor. A chegada do teste NAT representou um grande avanço. “Passamos a conhecer não só os anticorpos, mas também, o material genético de patógenos que infectam o doador. Dessa maneira, obtivemos o benefício do encurtamento da janela imunológica”, explica. Atualmente, estamos na fase da personalização dos doadores e receptores em que o hemoterapeuta está no leito do paciente para diagnosticar a doença e personalizar a transfusão. Um passo significativo para a evolução foi a terapia celular. O Dr. César comenta que, além de definir os componentes sanguíneos que melhor atenderão às necessidades do paciente, são usadas as células de maneira terapêutica. Em um futuro bem próximo, será possível universalizar a terapia celular para alcançar os melhores resultados, com a coleta seletiva de produtos sanguíneos. Para ele, o uso do CART-Cell deverá se expandir não só para as doenças onco-hematológicas, mas para um número maior de doenças. “Mas essa evolução necessita de investimentos constantes, inclusive para dotar os bancos de sangue, hemocentros e agências transfusionais que estão fora dos grandes centros de condições para participar das pesquisas e de capacitação. O ideal é termos no Brasil investimentos em pesquisa com a participação do tripé indústria, academia e órgãos públicos, modelo usado em um grande número de países desenvolvidos”, completa. MEDICINA TRANSFUSIONAL PERSONALIZADA

perfil Referência em gestão pública ABHH em Revista 08 / 2023 28

A hematologista e hemoterapeuta Clarisse Lobo compartilha o aprendizado de mais de três décadas de experiência em cargos de liderança no HEMORIO e na Fundação Saúde, ambas instituições públicas no Rio de Janeiro Por Madson de Moraes Comunicação/ABHH RAIO-X CLARISSE LOBO FORMAÇÃO Doutorado em Ciência Médicas pela Universidade Federal Fluminense (UFF) ONDE ATUA Assessora de Pesquisa Clínica do Hemorio e presidente da Câmara Técnica de Doença Falciforme do Ministério da Saúde. É membro do Comitê de Glóbulos Vermelhos e do Ferro da ABHH A rotina da médica hematologista e hemoterapeuta Clarisse Lobo é multidisciplinar. Ela atende e supervisiona o atendimento de pacientes, analisa as pesquisas clínicas em Doença Falciforme (DF) que estão em andamento, além de preparar e ministrar aulas no Hemorio e também organizar as capacitações do Ministério da Saúde. Natural do Rio de Janeiro, graduou-se em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 1983, iniciando sua atuação com Hematologia no internato na universidade e, posteriormente, durante a sua residência médica em Hematologia e Hemoterapia no Hospital Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuante nos trabalhos que envolvem Hematologia e Hemoterapia desde a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (SBHH) – que se fundiria em 2008 com o Colégio Brasileiro de Hematologia (CBH), dando origem à ABHH –, a médica completa 40 anos de Medicina em 2023, a maior parte deles dedicada ao estudo em doença falciforme. “Meu pai era médico e, desde muito pequena, queria seguir a mesma profissão quando crescesse”, conta a pesquisadora, que atualmente integra o Comitê de Glóbulos Vermelhos e do Ferro da ABHH, tendo organizado no HEMO 2000 o 1º encontro de doença falciforme, com a presença de vários palestrantes internacionais. Clarisse foi ainda presidente do HEMO de 2012, realizado na capital fluminense. Em 2016, obteve o Doutorado em Ciência Médicas pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com área de concentração em doença falciforme. Uma vida dentro do Hemorio Dentro do Hemorio, a Dra. Clarisse construiu uma carreira de 35 anos, tendo ocupado diversas posições. Essa jornada teve início em 1988, quando ela entrou para o Hemorio como médica hematologista e, quatro anos depois, foi convidada a assumir a chefia da clínica hematológica. “Em 1994, a Dra. Kátia Motta assumiu a Direção Geral do Hemorio e me convidou para a Diretoria Técnica da unidade. A Dra. Katia foi minha mentora em gestão e me preparou para meu futuro. Foi ali que iniciei minha trajetória como gestora pública. A Direção Técnica é a posição mais estratégica de uma unidade de saúde e também a mais estimulante. Adorava cada minuto do trabalho! Em um hemocentro, gerenciar a Hematologia e a Hemoterapia é desafiador. Aprendi muito naquele período”, lembra. Em 2008, após 20 anos de trabalho na instituição e 12 anos na direção técnica, ela assumiu a Direção Geral do Hemorio, função que ocupou até 2013. Um cargo de alto escalão em Saúde Pública que, segundo ela, traz desafios para qualquer gestor. “A Direção Geral, apesar de ser uma posição importante, é muito solitária, mais política do que técnica. Sempre que possível tentava compatibilizar as atividades para também trabalhar com a área técnica”, afirma. “Nesse cargo, tive o prazer de receber o primeiro troféu ouro alcançado por uma instituição pública de saúde na história do Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização do governo federal em 2008 e 2010”, orgulha-se. A prática da gestão pública Em 2014, a hematologista e hemoterapeuta enfrentou mais um desafio na sua trajetória profissional como gestora pública ao assumir, a convite da Secretaria Estadual 08 / 2023 ABHH em Revista 29

RkJQdWJsaXNoZXIy MTg4NjE0Nw==